sábado, 3 de maio de 2014

Sargentos e Cabos!

Respeitando a ordem natural das coisas, ou seja, ordenando as minhas publicações pelo posto ou antiguidade, depois dos oficiais seguem-se os Sargentos e Cabos. O primeiro de todos eles é um homem que veio lá dos confins da Beira Alta, na raia espanhola e acabou o seu percurso na terra em Sintra, onde tinha montado um negócio ligado à saúde, a sua especialidade na Marinha. Segundo o que consegui saber, o Sargento Monteiro não teve descendência e tendo morrido em Sintra pediu para o levarem de volta para a sua aldeia natal, onde foi sepultado.


Com o posto de Sargento apenas mais um, o Melro. Não sei grande coisa sobre ele. Soube que tinha falecido e fui encontrar a sua família em Benavente, filha e neta, que nunca se mostraram muito abertas a falar do seu familiar. Do meu lado também não houve um grande esforço para levar por diante a investigação, uma vez que eu e o Sargento Melro éramos inimigos de estimação. Ele tirou o "cabaço" à minha Caderneta Militar, pintando-a de vermelho com 5 dias de detenção. Bem lhe pediu o 1º Comandante que retirasse a queixa, por achar que eu não devia ser castigado, ou seja, que ele tinha tanta culpa como eu no acontecido, mas de nada valeu. Ele era meu superior, eu faltei-lhe ao respeito e com muita pena do comandante tive que gramar o castigo. Fui mais tarde amnistiado, aquando da visita do Presidente da República, mas a Caderneta já estava suja e assim ficou e foi piorando com o tempo. Eu saí da Marinha em 1968 e ele continuou, mas nunca fez grande carreira, parece que não passou de 1º Sargento e veio a morrer cedo sem honra nem glória (como é uso dizer-se).

O próximo da lista é o Domingos, o cozinheiro da Messe dos Oficiais e Sargentos. Deste nosso camarada é que eu não vos consigo contar coisa nenhuma. Quando li o nome dele na lista do pessoal da Companhia, não fazia a mínima ideia de quem se tratava, nem que lugar ou função ocupava na nossa Unidade. Foi preciso ver uma série de fotografias e trocar umas impressões com outros camaradas para reconstituir a minha memória a seu respeito. Eu e ele não tivemos o mínimo contacto durante toda a comissão, as nossas idades e funções não eram de molde a aproximar-nos, e nunca mais o vi ou ouvi falar dele depois de termos desembarcado do Infante D.Henrique.

Segue-se o Cabo Santarém, homem com uma história "sui generis". Muitas coisas poderia aqui contar sobre ele, nem todas muito bonitas, mas vou limitar-me a mencionar apenas uma particularidade que o tornou famoso em toda a Lourenço Marques daquele tempo. Era o homem sexualmente mais avantajado de toda a Companhia e mulher que fosse com ele para a cama, não repetia a aventura. A tal ponto que, a partir de uma certa altura, só uma mulata gorducha que parava no Central aceitava "coisar" com ele. E na manhã seguinte, contava ela, ia para a praia sentar-se dentro d'água para normalizar a "pachacha". Se não estou em erro, apanhou uma pena de prisão por ter desobedecido a uma ordem de um superior e acabou por pedir a baixa e ficar em Lourenço Marques quando nós regressamos a Lisboa.

E como último deste grupo, outro homem que tinha mais defeitos que qualidades. Por alcunha «O Marreco», o Carlos Alberto terminou o Curso de Conversão quando eu andava a marcar passo na minha recruta. Com o fim do curso e a entrada no quadro de fuzileiros passou de Marinheiro a Cabo e foi agregado à CF2 que começou a ser formada ainda nós não tínhamos terminado o ITE. Era um homem de trato difícil, tanto com os superiores como com os subordinados. Era fanático com a sua condição física e portanto amigo do desporto. Ficou célebre por ter tatuado no peito a cara da sua namorada com quem nunca viria a casar. Se fosse agora poderia livrar-se da tatuagem, mas naquele tempo não existia ainda essa possibilidade.

Como vêem não é grande a história que consegui reunir sobre estes camaradas e por isso peço aos comentadores que os tenham conhecido que contribuam para melhorar a coisa com um comentário a preceito.

6 comentários:

  1. Sargentos e cabos
    Estiveram ao serviço da Marinha
    Para a guerra foram descolados
    Com saudades da santa terrinha!

    ResponderEliminar
  2. Certamente eu estarei errado, mas o camarada que apresentas como Bernardino Sá, a mim parece-me ser o conhecido "cabo Xera", muito amigo de laurentinas fresquinhas e motos. O referido "cabo Xera" chamava-se efectivamente Norberto, era oriundo da classe de manobra e fez a conversão em fuzileiro . Já estava na Machava no tempo da companhia FZ 2, mas, penso eu, só fez parte da companhia FZ 8. Falo deste colega, que sei ter feito carreira na armada e que se reformou como cabo FZ, por ser, tal como eu, natural de Milfontes.
    Um abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Agora é que me arranjaste um problema do caraças!
      Eu não tenho a certeza de nada, nem modo de confirmar as nossas dúvidas. Para poder ultrapassar esta encrenca só falando com alguém que os conhecesse bem. Só me lembro do Lúcio (que mora na Quinta do Conde) ou do Emídio (que mora em Almodôvar), mas também poderia ser o filho da tua terra Norberto. Que é feito dele?

      Eliminar
  3. O Norberto mora em Milfontes e tem um mini restaurante/taberna só para os seus amigos. Porque esta semana estou em Milfontes, vou tentar encontra-lo e saber se a foto publicada é dele ou do Bernardino.
    Será que ele é capaz de se reconhecer na foto ?

    ResponderEliminar
  4. Ontem encontrei-me com o Norberto no seu mini restaurante "Casa D'Irene". Trata-se de um pequeno espaço, frente ao Rio Mira, onde ele cozinha bons petiscos para os seus amigos. Uns trazem peixe, outros carne, outros vinho (muito) e ali confraternizam diariamente.
    Quanto à foto que que tu dizes ser do Bernardino, ele garante ser a sua cara.

    ResponderEliminar
  5. Penso estar habilitado a falar um pouco do Monteiro (Joaquim Pinto Monteiro), do Melro (José Carvalho Melro) e do Santarém (Carlos Alberto Grego Cordeiro). Começo pelo Monteiro: Terminou a sua carreira militar no posto de 1º Tenente. Em Lço. Marques tinha uma espécie de gabinete ou consultório onde atendia uma vasta clientela na área da enfermagem, que era a sua, como se sabe. Pouco amigo de ajudar, negou ao Enfermeiro da CF8, Gavinho Santos, informação de como este podia "pegar" na clientele que deixara. Isso gerou atritos entre ambos, sendo de todo incompreensível porque estando o Monteiro longe e não pensando voltar a Lço. Marques, negar esse gesto de camaradagem ao Gavinho Santos. Há gente assim. Como dizem na minha aldeia, não gostam de ver uma camisa lavada a ninguém...
    O Melro terminou a carreira em sargento chefe e morreu aos 69 anos. Não espanta a recepção pouco cordial dos familiares, pois o relacionamento dele com a família era conflituosa, como o era no serviço.
    O Santarém, aquela "paz de alma", começou a ver a sua vida TODA a ficar do avesso a partir da altura que um oficial cawboy, Tavares Costa, que fora substituir o Abecassis, fez uma participação dele que lhe custou uma pena disciplinar pesada. Por quê a participação? Porque o oficial deu uma ordem a um cabo (ao Santarém) que não devia ter dado (mandou-o deitar num lamaçal num exercício quando devia ter dado essa ordem a um grumete ou a um marinheiro) - exactamente por se tratar dum cabo - e o Santarém se recusar a cumpri-la. Erraram ambos: o oficial que não devia ter dado aqula ordem a um cabo, e o cabo que devia ter cumprido a ordem e a seguir queixar-se do oficial. Começou aí a derrocada do Santarém... Andava a fábrica de cerveja 2M em fase de poder iniciar a laboração, teve a garantia de emprego imediato caso se desligasse da marinha e ficasse em Moçambique. Foi o que fez: Levou baixa e, como já lá tinha a mulher e a filha ficou, também ele quando a Companhia regressou a Lisboa. Regressei a Moçambique três meses depois integrado num pelotão de reforço, e fui encontrar o Santarém a viver às custas de 1.000$00 que a mulher recebia de trabalhos domésticos, porque a ele foi negado o emprego prometido na cervejeira! Viveu na semi-miséria até que rumou a Cabora Bassa onde arranjou emprego (creio que como segurança). Estive com ele algumas vezes em Lço.Marques de 1971 a 1973, parecendo que as coisas não lhe correram lá muito bem na "eléctrica" e ia vivendo de biscates ocasionais.
    Do Domingos e do Marreco só tenho a dizer que o Domingos era um excelente cozinheiro e pessoa, e o Marreco asqueroso em todos os aspectos. Foi guarda-costas do último Ministro da Marinha e penso que chegou a sargento ajudante.

    ResponderEliminar

Sem o vosso comentário o blog não tem qualquer valor