terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

O Alves de Monção!

Na imagem que aparece no cabeçalho deste blog, ele aparece destacado, à esquerda, de fato camuflado, enquanto o resto da maralha está com a farda de trabalho. Isso significa que ele estava de guarda, nesse dia, e nada mais que isso.

Não sei se ele se mudou, definitivamente, para a sua terra natal, no Minho, ou continua a andar cá e lá, entre o Lavradio e Monção. Na última vez que falei com ele disse-me que as obras na sua casa estavam quase prontas e depois contava passar ali mais tempo que no Lavradio, onde estabeleceu a sua residência, depois de se reformar da Marinha.

Mas os nossos planos, muitas vezes, são alterados por vontade de terceiros e ele tem família criada naquele sítio, filhos e talvez netos que o não deixem cumprir os seu planos à risca. E depois, há a sua mulher de quem não sei absolutamente nada. Se ela também for minhota pode puxar para este lado, mas se não for pode remar contra a maré e o Alves, camarada, amigo e filho da escola, pode ver os seu planos, completamente gorados.

Tenho tentado entrar em contacto com ele por todos os meios, mas sem sucesso. Ou mudou de número de telemóvel ou deixa-o ficar no descanso, enquanto ele anda por fora. Se alguém passar por aqui e o conheça, deixe um recado. Ele era conhecido pela alcunha de «Zeca Diabo» por causa da sua careca e bigode que o faziam parecer-se com a personagem desempenhada pelo famoso actor brasileiro Lima Duarte numa das telenovelas que passaram na nossa TV, salvo erro, Roque Santeiro.

Os filhos da escola comuns que também moravam no Barreiro, nomeadamente, o Pintado, o Bento, o Ferreiro, o Toucinho, já morreram ou vivem caladinhos no seu canto, sem passarem cartão a ninguém. A idade começa a pesar e as dificuldades da vida ajudam a que as pessoas fiquem "fora de serviço".

Gostaria muito de saber notícias dele!!!

domingo, 28 de janeiro de 2024

O Garcia de Santa Comba!

 



Não conheci o Garcia de Horta (seria natural da Horta, nos Açores?), mas conheci e convivi, durante alguns anos, com o Garcia de Santa Comba de Seia, na Beira Alta. Ele era um rapaz engraçado, com aquele modo de falar à moda das Beiras, em que os "ss" caem mais para o lado dos "xx". Por essa razão, na Marinha, lhes dedicaram a alcunha de "xaitos"! O Garcia era o nosso xaito da CF2 e levava na maior todas as brincadeiras que fazíamos com ele.

Um certo dia, sem nada mais importante para fazer, chamei por ele e perguntei-lhe:

- Garcia, queres que eu te ensine a pronunciar os "ss" correctamente?
- Eu bem gostava, mas não acredito que isso seja possível.
- Porquê? sempre falei assim, a minha família e amigos falam todos assim e eu ia parecia um palerma se chegasse ao pé deles a falar de modo diferente.
- Oh, Garcia, pensa lá uma coisa, a tua família, agora, é a Marinha, em especial os 150 camaradas da Companhia 2 e ninguém fala como tu.
- Ai não fala, e então o Zé Daniel, como fala ele?
 - O Zé Daniel é a excepção que confirma a regra, por isso não conta.
- O que é que isso quer dizer, ele fala tal e qual como eu.
- Isso agora não interessa nada, pensa apenas no teu problema e em como poderemos resolvê-lo.
- Está bem!
- Ok, vou ensinar-te uma frase que tu deves repetir, pelo menos, umas cem vezes por dia, até achares que já consegues dominar a ciência de pronunciar as consoantes sibilinas.
- Sibilinas? O que quer dizer isso?
- Esquece isso, Garcia, e concentra-te no que te vou dizer. A frase que quero que repitas muitas vezes é a seguinte:

A História é uma sucessão de sucessos que se sucedem sucessivamente sem cessar!

- Que quer dizer isso?
- Não te importes com o significado, só tens que repetir até conseguires que a tua língua aprenda o sítio onde deve ficar, quando tiveres que pronunciar um "S".

E o Garcia lá se separou de mim, com os trabalhos de casa para fazer. Quis o destino que algum tempo depois destas peripécias, eu fosse destacado para o norte de Moçambique, deixando o Garcia - com a missão que eu lhe tinha distribuido - na capital moçambicana. Quatro meses depois, regressei à capital e começámos a fazer as malas para regressar a Lisboa. A conversa sobre os "ss" e se ele tinha conseguido corrigir o seu modo de falar ficou esquecida no tempo.

No Ano de 2002 reuniu-se o pessoal da CF2 num convívio, em Sintra. Como é normal, a maioria dos presentes não reconhecia ninguém naquelas caras de velhos e carecas. Então aproximou-se de mim um sujeito baixinho e perguntou, sabes quem eu sou? A cara dele fazía-me lembrar alguém, mas não conseguia saber exactamente quem. E então, ele abriu a boca e disse:

A História é uma sucessão de sucessos que se sucedem sucessivamente sem cessar!

Claro que os "ss" saíram, exactamente, como quarenta há anos, quando estávamos em Moçambique!