sexta-feira, 30 de maio de 2014

Granada!

Sargento Peniche, ao centro da imagem

A notícia do acontecido hoje no campo militar de Santa Margarida fez-me recordar de alguns dos últimos treinos feitos pelo pessoal da Companhia 2, na Escola de Fuzileiros, antes da concentração no Corpo de Marinheiros do Alfeite. Durante as aulas teóricas que, às vezes, eram ministradas na mata da Escola, com todo o pessoal sentado no chão ouvindo, mais ou menos atentamente, o que dizia o sargento instrutor, soava de repente a palavra «GRANADA» e toda a gente tinha que saltar para o mais longe possível ficando de bruços e com as mãos a proteger a cabeça.
Na maioria das vezes, por razões de economia, era atirada uma pinha em vez da esperada granada e o «BUM» da explosão nunca mais acontecia, deixando um sabor de engano na cabeça dos instruendos. Isto provocava no pessoal uma reacção negativa levando a que não se preocupasse muito em proteger-se convenientemente, pois o lançamento da pinha não significava o menor risco. E havia sargentos que exageravam as brincadeiras com a pinha e se riam no fim com as figuras mais ou menos desajeitadas que a malta fazia ao tentar saltar para o mais longe possível.
Juraria que era o Sargento Peniche que ministrava uma dessas famosas aulas, numa tarde quente do fim de Setembro, e quando soou o grito de granada, foi uma granada a sério que atirou para o meio do pessoal. Metade do pelotão, de que eu fazia parte, limitou-se a deixar-se cair para o lado sem grande preocupação em se proteger. Lembro-me de um dos camaradas que viu a granada cair-lhe mesmo ao pé da cara e só teve tempo de saltar para o outro lado antes de ela rebentar. E um outro que foi para a enfermaria com os olhos cheios de areia e alguns ferimentos ligeiros nas mãos e na cara. Sorte que o solo na mata era constituído por areia fina e o rebentamento não atirava pelo ar grandes estilhaços, além da cabeça metálica da granada.
Era mesmo assim um treino que não trazia aos alunos grandes conhecimentos e envolvia algum risco. Felizmente nunca aconteceu nada de maior, pelo menos no tempo que passei na Escola.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Viaturas dos fuzileiros!

Não têm tido grande sucesso as fotografias que aqui tenho publicado, mas sempre é melhor do que estar aqui a escrever notícias fúnebres. Se não fosse o Eduardo que além de não ter pertencido à CF2 nem fuzileiro é, não havia quem me fizesse companhia neste blog. Mas, contra tudo e contra todos, não me resta outro caminho senão seguir em frente. Então cá vai!


Ontem recebi um mail do administrador do blog «Barco à Vista» pedindo fotos em que apareçam veículos utilizados pelos fuzileiros. Estas Bedford que foram connosco para Moçambique seriam um bom início de conversa. Com a ajuda do meu amigo Zé Manel Matos dei as primeiras lições de condução ao volante de uma destas camionetes e, por curiosidade, acabei por conduzir uma da mesma marca quando fiz o exame de condução, depois de sair da Marinha, em 1968.
Coincidência ou talvez não, quase todos os que aparecem nesta imagem estiveram comigo em Metangula, em 1964.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Atrás da caserna II!


Ao olhar para esta foto vários pensamentos assaltam a minha mente. O primeiro deles tem a ver com o facto de todos estes camaradas da nossa Companhia andarem "muito" desaparecidos.
O Albertino (ao centro da imagem) não tem qualquer culpa no caso, pois a vida abandonou-o há muito tempo e dada se pode fazer quanto a isso.
À esquerda aparece o Bonança que anda perdido nos meandros da sua relativa pouca saúde e mais que provável falta de vontade de se encontrar com o restante pessoal da Companhia. Fui visitá-lo a sua casa, em Gaia, por duas vezes tentando motivá-lo para aparecer num dos nossos convívios, mas até agora isso não aconteceu.
Ao seu lado o minhoto Alves que divide o seu tempo entre o Barreiro, onde tem a família, e Melgaço, onde deixou o coração, sem arranjar tempo para se juntar a nós. Por sorte apanhei-o em 2012, na comemoração dos 50 anos, e depois disso mais nada.
Do lado direito temos o Marlon que durante o nosso Curso de 1º Grau, em 1965, deu de frosques e ninguém mais lhe pôs a vista em cima até hoje. Foi parar ao norte de Espanha, onde arranjou emprego, se casou e lá vive ainda hoje. Para poder estar com ele uns momentos, tive eu que me fazer ao caminho e ir visitá-lo à Galiza.
E ao seu lado o Valter que vai aparecendo regularmente nos nossos convívios, mas vendo-o ali fisicamente parece ter o espírito muito longe do lugar onde nos encontramos e torna-se impossível ter uma conversa com ele sobre o nosso passado comum. Eu e ele vivemos os seis anos e meio de Marinha lado a lado, para onde foi um foi o outro, em todas as circunstâncias. Separámos-nos no fim da comissão da CF8, quando eu regressei a Lisboa e ele decidiu ficar em Lourenço Marques para lá construir o seu futuro.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Atrás da caserna!


Do outro lado a Parada e os olhos atentos dos superiores sempre prontos para pôr o pessoal no «Livro». Deste lado o sossego que dava para tudo e mais alguma coisa. E por trás daqueles cajueiros, lá ao fundo da imagem, era a palhota da Joana!
N.B. - Foto oferecida pela filha do A.C.Rodrigues.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

A nossa quinta!


A Estação Radionaval da Machava e as instalações dos fuzileiros tal como eram no tempo em que lá estivemos. Como se pode ver na imagem ainda não tinha sido construído o canil nem o campo de treinos para os cães de guerra. A mata começava ali mesmo ao lado do pau de bandeira que se situava a meio do flanco norte da Parada. Bem visível o campo de futebol, assim como o edifício da Recepção (comunicações).
Para quem tiver curiosidade de ver como as coisas mudaram nos últimos 50 anos, basta ligar o Google Earth e fazer um "zoom in" sobre esta área.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

São anos de vida!

Costuma dizer-se que sonhar com a morte são anos de vida. Vem isto a propósito de uma notícia (ou boato) da morte de um filho da minha escola e camarada da CF2 que andou por aí a circular nos últimos dias. Como ele não morreu coisa nenhuma, quem pôs o boato a circular deve ter sonhado. E isso significa que vamos ter a companhia dele por algum tempo mais, quanto não sabemos que a saúde é pouca, mas vai dando para os gastos.
Há dias, o Manuel Ladeira perguntou-me se tinha notícias dele. Ontem telefonou-me o Licínio e, entre muitas outras coisas que vieram à baila, lamentou a perda deste nosso camarada, o que me fez saltar para o terreno para tentar saber se tinha acontecido alguma desgraça sem que eu tivesse sabido. Numa primeira tentativa não o consegui apanhar ao telefone e só hoje pudemos conversar um pouco sobre o andamento da sua doença que o faz andar de médico em médico e de hospital em hospital desde há 4 anos.
Pois ficam a saber todos os camaradas da nossa Companhia que o Manuel Paula não goza de boa saúde, mas vai vivendo, como ele diz, um dia de cada vez e com muita vontade de por cá andar ainda muito tempo. E nós ficamos felizes de ouvir isso!

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Peniche vezes 3!


Além dos indígenas e do Daniel (Marinheiro Clarim), temos nesta foto 3 amigos de Peniche. Começando pelo Fragata (à direita), são tão raras as fotografias onde ele aparece que tenho que lhe dar o realce que esse facto justifica. Anda desaparecido lá pela costa oeste do Canadá e nada sei dele desde há 4 anos.
Ao seu lado o Clímaco Pereira (Grumete Artilheiro) que no nosso primeiro convívio me confessou estar espantado com as memórias que eu tinha dele e das histórias com ele vividas. Aquela do Tavares Costa lhe apontar a pistola Walter à cabeça e dizer, "ou vais ou morres aqui", foi a que mais o impressionou. Ele nem sonhava que haveria alguém que se lembrasse de tal coisa.
E o último, o Alturas, que é filho da minha escola, vizinho de tarimba durante a recruta (temos números de matrícula sucessivos) e oriundo da Lourinhã, facto que motivou milhentas ocasiões cómicas durante a comissão.

domingo, 11 de maio de 2014

Lutando contra o Alzheimer!


Não posso nem quero esquecer coisa nenhuma daquilo que vivi nos 70 anos que levo neste mundo. Comigo o Dr. Alzheimer não tem hipótese, exercito os neurónios todos os dias para que o gajo não me apanhe. E espero ser bem sucedido.
Vários camaradas da CF2 me têm dito que não têm a mais remota memória do Arménio Guerra (16443) que na imagem acima aparece com o Alturas (16421) em animado (mudos como carpas) concerto musical. Ele só fez meia comissão e depois de regressar à Metrópole conseguiu que lhe deferissem o requerimento para a baixa e com o «serviço militar cumprido». Qual foi a desculpa que ele engendrou para o conseguir, isso gostaria eu de saber. Inclino-me mais para a hipótese de um padrinho influente que lhe acelerou o processo.
Quando regressamos à Metrópole, depois de 30 meses de comissão, tivemos uma curta licença antes de entrarmos no Curso de 1º Grau. Como ia passar no Porto, informei-me de quais as possibilidades de me encontrar com ele, na vinda ou no regresso. De um outro filho da escola que também era do Porto e o conhecia bem recebi a seguinte dica:
- Se queres encontrar o Guerra vai até à marginal da Foz, pois ele passa lá o tempo agarrado à cana de pesca, não quer outra vida!

sábado, 10 de maio de 2014

O célebre Rodrigues!

Para aqueles que não frequentam o blog «Escola de Fuzileiros» deixo aqui um link para uma mensagem publicada pelo Artur Sousa (Leiria) sobre um dos membros da CF2. Quem quiser ler a mensagem basta clicar aqui.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

O Laurentino ataca de novo!


Aqui é portugal!
Conseguem ler estas palavras na escadaria que sobe para o edifício da Câmara Municipal de Lourenço Marques?
Era assim nos velhos tempos, quando a Companhia 2 esteve lá. Portugal estende-se do Minho até Timor, dizia-se. Um império ultramarino que nenhum outro país europeu se podia gabar de ter. Infelizmente, em pouco mais de dez anos, tudo se desmoronou como um castelo de cartas e Portugal regressou aos seus limites territoriais do Século XIV, antes dos Descobrimentos.
Há quem diga que se a descolonização tivesse sido feita de outra maneira poderíamos ainda hoje continuar a desfrutar da beleza deste paraíso do Indico. Eu tenho as minhas dúvidas. Os movimentos de libertação de raíz comunista, patrocinados pela U.R.S.S. e China, nunca aceitariam a descolonização de modo muito diferente daquele que aconteceu. Veja-se como as coisas se passaram também na África do Sul ou na Rodésia.
A minha esperança é que portugueses e moçambicanos esqueçam o que de mau aconteceu no passado e se concentrem no que de bom ali fizemos e, mais ainda, naquilo que em conjunto podemos fazer no futuro. Logo que os políticos se deixem de comunismos e se comecem a preocupar mais com o bem-estar do povo e o desenvolvimento da economia, as coisas entrarão nos eixos.

E com estes termino!

O Enfermeiro
Crismei-o com esta alcunha desde que me contou aquela história (já aqui referida numa mensagem anterior) de ter arranjado maneira de vir embora a meio da comissão para frequentar o Curso de Enfermagem. Como não tenho mais dados sobre ele, eu teria que repetir aqui a história que já contei da sua deserção e passagem pela prisão do Corpo de Marinheiros e daquilo que me custa muito a acreditar, ou seja, do curso que aceitaram que ele frequentasse depois das tropelias que o levaram para a 4ª Classe de comportamento, situação nada abonatória.
O Rafael contou-me que casualmente se cruzou com ele no Rossio, há uns anos atrás, que o reconheceu e trocou algumas palavras com ele. Para quem morou toda a vida em Lisboa, coisa que ainda hoje acontece, parece estranha a falta de contacto com outros filhos da escola, especialmente aqueles que seguiram a carreira na Marinha e passaram uma grande parte da sua vida a percorrer os mesmos caminhos que ele.

O Padre
Arranjar alcunhas para todos e mais alguém era um desporto cultivado com profunda dedicação por alguns camaradas da nossa Companhia. Este filho da escola recebeu a alcunha de Padre por causa do seu modo de ser. Muito delicado no trato e com um modo de falar nada característico da região de onde provinha, margens do Dão no concelho de Tondela, ele parecia de facto um padre recém saído do seminário. Quem lhe pôs a alcunha acertou. Emigrou para a Alemanha logo que saíu da Marinha, no início do ano de 1966, e por lá continua ainda tanto quanto me é dado saber.
No ano de 2010, aquando do nosso convívio em Montemor-o-Novo, prometeu-me que vinha, enviou-me mesmo um cheque para pagamento da sua inscrição, marcou passagem de avião para ele e a mulher, mas no dia D não pôde vir. Pediu-me desculpa, eu devolvi-lhe o dinheirinho e por aí nos ficamos nos nossos contactos. No ano seguinte ainda lhe mandei a carta-convite para o convívio que realizámos na Mealhada, mas não obtive qualquer reacção da sua parte.

O Cascalho
Parece alcunha, mas não é. É mesmo o seu nome de família. Natural de Évora este filho da minha escola tinha herdado as ideias da Catarina Eufémia. Era anti-salazarista declarado e refilava contra todo o tipo de autoridade. Segundo as más línguas, foi sempre seguido com a maior atenção pela polícia política e os seus informadores (garantiram-me que também os havia entre o pessoal da CF2), o que acabou por levá-lo a cometer asneiras e a ser recambiado para a Metrópole para cumprir pena de prisão no forte de Elvas.
Entre nós era conhecido pela sua habilidade com a bola. Se bem me lembro, ele era jogador do Juventude de Évora quando assentou praça na Armada e nas aulas de educação física não havia outra disciplina para além de futebol. Todos queriam fazer parte da sua equipa, pois era meio caminho para sair a ganhar, coisa que toda a gente gosta.
A maior piada, em relação ao seu envolvimento com a política e correspondente perseguição movida pela PIDE, foi ter acabado como contínuo nas instalações dessa polícia, na cidade de Évora. Fartei-me de rir quando me contaram essa. Morreu há já bastantes anos, mas não consegui saber de que doença.

O Presunto
Mais um infeliz que morreu antes de ter tempo de gozar a vida. Por aquilo que me contaram morreu antes de chegar aos 50 anos vitimado pela doença que agora está na moda, o cancro.
Alpalhão é uma pequena vila alentejana, mas deu à minha recruta 3 filhos, sendo o Presunto o mais marreta dos três. Ser alentejano não significa ser gordinho, mas este nosso camarada era bem fornecido de carnes e de pele bem rosadinha, o que me faz supor que foi a razão por que foi baptizado com essa alcunha.
Foi meu companheiro nas duas comissões que fiz em Moçambique e o ano que passámos em Metangula aproximou-nos muito. Lembro-me do seu modo característico de falar com as palavras a atropelarem-se umas às outras, o que por vezes o obrigava a repetir o que dizia para o conseguirmos perceber.
Morava no Barreiro quando morreu, mas garantiram-me que foi sepultado em Alpalhão, sua terra natal. No ano passado, passei em Alpalhão e fui à procura do outro filho da escola que ainda lá mora. Primeiro para lhe dar um abraço e segundo para me guiar até à campa do Presunto. Ficou contente por me ver, mas quando lhe pedi para me acompanhar ao cemitério disse-me logo que não valia a pena, pois o nosso camarada tinha sido sepultado no cemitério do Lavradio, área da sua residência. Pode ser que um dia passe pelo Lavradio e tenha oportunidade de prestar-lhe a homenagem que merece.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

O penúltimo lote!

O Rodrigues
O meu pelotão da recruta era composto por metade voluntários e metade recrutados. O Rodrigues era um dos primeiros recrutados e como todos os outros era também do norte de Portugal, suponho que do concelho de Amares. Não sei se isso pode ser tomado como um elogio, mas este camarada era daqueles que passava despercebido. Não sobressaía do resto do pessoal, nem por boas nem por más razões. Depois de muitos anos sem saber o que foi feito dele, descobri que mora na zona de Sintra e consegui o seu endereço e número de telefone. Telefonei-lhe várias vezes para tentar convencê-lo a juntar-se a nós nos convívios anuais, mas nunca fui bem sucedido. Possivelmente ficou cheio de Marinha e marinheiros até à ponta dos cabelos e não quer recordar pecados velhos.

O Marinho
Era assim que lhe chamávamos, mas não era este o seu apelido. Era sim o diminutivo do seu nome próprio, Mário, que usávamos em sinal de amizade. Algarvio de origem e muito bom rapaz era um daqueles que qualquer um gostaria de contar na sua lista de amigos.
Eu não convivi muito com ele, porque não sendo do meu pelotão raramente nos encontrávamos. Eu de folga quando ele estava de serviço e eu de serviço quando ele estava de folga. Quando fomos para o Niassa levamos uma mão cheia de algarvios, mas ele não foi incluído no lote e assim passámos os últimos seis meses de comissão longe um do outro.
Por aquilo que consegui descobrir, a sua vida depois da Marinha não foi nada fácil e acabou por morrer ao abandono.

O Mateus
Para descrever e contar as aventuras deste grande amigo tinha que escrever um livro com, pelo menos, 100 páginas. Nascido e criado em Santa Bárbara de Nexe, no sotavento algarvio, ele mais parecia mouro que português, por causa da sua tez escura. Cómico até dizer chega, nunca havia ninguém mal disposto no lugar onde ele estivesse.
Há duas imagens que guardo dele na minha memória que nunca se apagarão. A primeira é a andar pela caserna com as mãos pelo chão e os pés no ar, partindo da posição do pino. Fazía-o com tanta facilidade e equilibrava-se tão bem como um artista de circo. A outra imagem é um Mateus de calções, com uma meia em cima e outra em baixo e o sargento a refilar com ele que aquilo não eram propósitos de um militar. Resultado, acabava todo mundo a rir, sargento incluído.
Outra lembrança ainda e que a maior parte dos camaradas da Companhia também deve ainda recordar é de vê-lo a caminho da casa de banho com a toalha pendurada no pénis em erecção. E no acampamento da praia do Miramar, a falar inglês (de que não sabia uma única palavra) com as bifas era de escangalhar a rir. Pena tive de saber que já tinha morrido quando fui à sua procura.

O Tarrinha
Um bom malandro me saíu o Tarrinha. Amigo para todas as coboiadas enquanto estivemos em Lourenço Marques, sempre esperei que aceitasse e gostasse de se juntar a nós nos nossos convívios. Engano meu, deu-me um rotundo não logo na primeira vez em que falei com ele. Talvez a vida lhe tenha sido madrasta e não queira partilhar isso com quem o acompanhou na sua juventude. Vá lá a gente entender as razões de cada um.
Foi um dos que me acompanhou em Metangula durante aqueles quatro meses em que a Frelimo começou a mostrar os dentes. Lembro-me de termos feito uma excursão ao alto do monte Tchifuli em que ele participou também. Foi ainda no tempo em que a Frelimo não nos apoquentava muito e andávamos por ali à vontade, desarmados e tudo.
Fez a sua vida como emigrante nos Estados Unidos e, embora more aqui na zona de Sintra, passa a vida no avião de um lado para o outro, pois deixou lá filhos e netos.

O Cotrim
Cotrim era o seu nome do meio. Deste nosso camarada mal me lembro. Se não fossem as fotografias e as histórias que ouvi da boca dos outros camaradas durante os nossos convívios, diria que ele não fez parte da CF2. Pelos vistos era faxina da cozinha, mas de faxinas só me lembro do «Estorninho», o alentejano de Alcáçovas que seguiu a marinha e ingressou no quadro da Taifa.
Soube que na vida civil também exerceu a actividade de cozinheiro e trabalhou, nos últimos anos da sua vida, num restaurante do Parque de Campismo de Fernão Ferro. Tinha falecido ainda há pouco tempo quando nos reunimos pela primeira vez na Quinta do Moino, em 2008.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Tarefa quase concluída!

Com esta publicação e talvez mais duas terei no blog as caras de todo o pessoal da minha Companhia. Pode não parecer muito importante, mas para quem quiser reconstituir as suas memórias em relação a esses 30 meses passados em Moçambique é "quase" o único meio. Ao olhar para estas fotos haverá coisas que nos saltarão à memória de repente e sem ser necessária outra ajuda. E para quem gosta de preservar as suas memórias isso é importante.
Nesta mensagem começo com dois grumetes voluntários, ambos filhos da minha escola, já falecidos há muitos anos. O primeiro deles é o Telmo, rapaz oriundo de Bragança que era a alegria da nossa caserna pela maneira como falava e pelas saídas com que nos brindava a todo o momento. Aliás, aproveito para aqui recordar os outros 3 camaradas que com o Temo ocupavam as primeiras 4 tarimbas, à entrada da porta, na caserna do lado norte, o Paixão (16395), o Alturas (16421) e o Arménio (16443), cada um deles com uma história mais interessante que a outra.
Mas voltando à história do Telmo, ele voltou para Bragança de pois de passar à disponibilidade e meteu-se no negócio dos transportes. Não sei como as coisas terão sido no princípio, mas no fim da sua vida as coisas iam de vento em popa. À sociedade com um amigo, ele abriu um negócio de pneus que além de lhe proporcionar uma melhoria do nível de vida lhe trouxe, por acréscimo, a certidão de óbito. Um dia, ao desmontar um pneu de um tractor, este explodiu-lhe na cara e um pedaço da jante que se partiu rebentou-lhe com o crânio. Triste fim teve o Telmo, quando a vida começava a sorrir-lhe.
O Agostinho Seco era um dos 3 Agostinhos que me acompanharam na minha passagem pela Marinha. O seu nome de família «Seco» ligava-se de uma maneira especial a outro Agostinho que usava o nome de «Verde» que por sua vez tinha uma ligação ainda mais especial com um terceiro Agostinho que orgulhosamente ostentava o apelido de «Maduro». Coisas para vos contar num capítulo à parte, por não caberem no âmbito desta mensagem.
O Agostinho Seco (16485) ocupava uma tarimba ao lado do Filipe (16491), na Caserna dos Voluntários da Escola de Fuzileiros e espero que ele se lembre dele quando ler esta mensagem. Eles e eu fazíamos parte do famosíssimo «Pelotão do Bicho», o melhor da nossa recruta.
Se bem me lembro ele era natural do Paião, Figueira da Foz, mas depois de sair da Marinha ficou por Lisboa a trabalhar na indústria hoteleira. Por aquilo que me contou o Loureiro, também ele membro da CF2 e filho da terra do Agostinho, ele morreu vitimado por uma doença hereditária que já tinha vitimado outros irmãos, por volta dos 50 anos de idade.
O nosso segundo convívio, em 2009, foi realizado na sua terra natal e representou também a primeira participação do Loureiro que durante o evento me pôs a par destas coisas que eu desconhecia.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Continuemos com as fotos!

Depois de um curto interregno para descontrair, vou continuar com a publicação das fotos dos meus camaradas de comissão para ver se acabo com isto rapidamente. Depois dos oficiais, sargentos, cabos e marinheiros sobram os grumetes, alguns da escola de Setembro de 1961 e outros da minha escola, a de Março de 1962.
O primeiro da lista é o Mário Martins, um rapaz fortalhuço que tinha uma peitaça impressionante. Aliás, o seu peito era uma espécie de ex-libris da sua personalidade. Se alguém perguntava pelo Mário, a resposta era uma nova pergunta:
- Qual Mário, o do peito para fora?
Como quase sempre acontece com os homens que têm um cabedal de respeito, o Mário era "um paz d'alma", fizessem o que lhe fizessem nunca se irritava. Era um verdadeiro camarada e estava sempre pronto a ajudar no que fosse preciso.
Nunca mais lhe pus a vista em cima, desde que desembarcamos do Infante D.Henrique, no dia 11 de Abril de 1965. Quando fui à procura dele para reunir toda a Companhia, em 2008, já o encontrei sepultado no cemitério da freguesia de Adémia, Coimbra. Soube que trabalhou muitos anos como encarregado da manutenção nas oficinas da Rodoviária, em Coimbra, e morreu de repente (suponho que) de cancro.
A seguir ao Mário vem o António Chaveiro. Alentejano da zona do Cercal, segundo as informações (poucas) que consegui recolher. Não houve quem me soubesse dizer o nome da sua terra de origem, se tinha feito carreira na Marinha ou saído logo após a comissão. Tudo que me disseram é que era já falecido, o que fez com que eu não levasse mais longe as minhas pesquisas.
Ainda publiquei na internet uma série de mensagens, na tentativa de atingir algum membro da sua família e houve alguém que entrou em contacto comigo dizendo que não era da família, mas tinha maneira de me arranjar a informação que eu procurava. Dei-lhe todos os pormenores e fiquei à espera ... até hoje. Há pouco tempo atrás, arranjei um amigo no Facebook que se chama António Chaveiro e também foi marinheiro. Perguntei-lhe se por acaso havia algum laço de família com o meu camarada da CF2, mas a sua resposta foi negativa.
O terceiro desta pequena lista que junta os recrutas de Setembro de 1961 é o Carlos Trindade, mais conhecido entre nós pela alcunha de «Fina Flor», ou apenas «Flor».
O Flor era um homem só. Não tinha amigos, isolava-se lá no seu mundo, cumpria as ordens que recebia sem discussões e desempenhava as tarefas que lhe eram distribuídas sem reclamar. Nas horas vagas passava o tempo a deambular pela mata da Estação Radionaval na companhia da Bolinha, a nossa cadelinha mascote.
Quando perguntei por ele, em 2008, logo me informaram que tinha um restaurante na Amadora e seria fácil entrar em contacto com ele, o que de facto não aconteceu. Quando contactei esse restaurante, de que me tinham dado o nome, já tinha sido trespassado e não me souberam dizer quem era ou onde morava o antigo proprietário. Mas acabei por localizá-lo a morar na Falagueira/Amadora, só que nunca consegui convencê-lo a juntar-se a nós. Continua tão introvertido como sempre foi. Que lhe havemos de fazer? Com esta idade já não muda com toda a certeza.
E para terminar temos o Paulino, o Lisboa por alcunha. Ele era o escriturário da nossa Companhia. Os livros da Secretaria, a transcrição da Ordem do Dia ou a actualização das nossas Cadernetas Militares eram coisas que passavam pelas suas mãos. Lisboeta de nascença e rapaz de fino trato, o Paulino dava-se bem com toda a gente, era, se assim posso dizer, um  verdadeiro diplomata. Pena ter morrido tão cedo. Como costuma dizer-se, morrem os bons e ficam cá os que não prestam.
Houve uma infracção que ele praticou a meu pedido que, passados tantos anos e com ele já falecido, posso relatar sem medo de o prejudicar com estas declarações. Como já contei aqui, quando publiquei a foto do Sargento Melro, apanhei 5 dias de detenção que foram registados na minha Caderneta pelo seu punho. No seguimento desse castigo, o nosso comandante deu também uma repreensão ao Melro, por não ter aprovado a sua atitude. Quando o Américo Tomás visitou Moçambique, em 1963, esses castigos foram amnistiados. O Melro, por intermédio do sargento que chefiava a Secretaria, teve acesso à sua Caderneta e disfarçou o registo do castigo de tal modo que não conseguia ler-se o que lá tinha sido escrito.
O Paulino soube disso e numa ocasião que estive com ele na Secretaria mostrou-me o "trabalhinho". Pedi-lhe a minha Caderneta para fazer o mesmo ao meu castigo e ele, muito em segredo, confiou-ma durante uns tempos. Não consegui disfarçar nada, mas rabisquei-a de tal modo que quase destruí aquela página da Caderneta. Depois fiquei com medo de o comandante poder ver aquilo e chamar o Paulino à pedra, mas felizmente nada aconteceu.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Ditos populares!

Em Portugal, nos velhos tempos, trabalhava-se de sol a sol, ou seja, enquanto houvesse luz do dia para dar o corpo ao manifesto. Alguns anos antes do 25 de Abril, começou a haver legislação e foi imposto o limite de 48 horas semanais, mas ainda e sempre deixando o mundo rural de fora. Mais tarde, suponho que em 1991, passou-se para 44 horas e foi prometido que a pouco e pouco se caminharia no sentido de chegar às 40 horas, coisa que aconteceu ainda antes do início do Século XXI.
Quando abandonei a Marinha e entrei no meu primeiro emprego, comecei com um horário de «semana inglesa» que é aquela em que não se trabalha ao sábado à tarde. Depois de passar pela emigração arranjei outro emprego em que já se aplicava a semana americana, ou seja, sábado completamente livre.
Esta famosa semana americana que se tornou banal no nosso país deu origem a um dito popular que todos devem conhecer - nunca mais é sexta-feira! Possivelmente terá sido copiado, ou imitado, daquele que se usa na América - Thanks God it's friday!
Mas existe um outro dito popular que deve ser tipicamente português, por causa da fome que fazia roncar as tripas dos trabalhadores conforme os ponteiros do relógio iam avançando e que os fazia suspirar e dizer, de vez em quando - nunca mais é meio-dia - a pensar na hora do tacho.
Até aqui tudo bem, só que agora apareceu um amigo meu a jurar que esse ditado tem origem na Suíça e foi inventado por causa de um relógio (que podem ver aqui ao lado) que tinha uma mulher nua a servir de ponteiro das horas e um homem nu a servir de ponteiro dos minutos. E, como é fácil de perceber, só ao meio-dia estavam um em cima do outro, o que terá dado origem ao ditado.
O Povo sempre arguto e atento às coisas que mexem com ele, seja o estômago, ou ... um pouco mais abaixo!

Gajos difíceis, hein!


Para quebrar um pouco a monotonia destas publicações vou meter aqui no meio uma pequena história que envolve dois dos nossos camaradas que me vi grego para localizar e que nunca consegui que aparecessem nos nossos convívios. Por essa razão o título que dei a esta mensagem.
Esta foto foi-me oferecida pelo Manel Gonçalves - que aparece ao centro da imagem, ao lado do Cabo Milheiro - e foi a única conseguida onde aparece o João Silva (16772), sentado ao lado do Gonçalves e usando o fato macaco da ordem e também o António Pereira (16790) que podem ver em pé, ao centro da imagem e também usando o mesmo fato macaco. São eles os dois gajos difíceis.
O António Pereira, com a ajuda de um um amigo a quem não tenho maneira de pagar o favor, foi localizado na Alemanha e a última vez em que tive notícias dele tinha sido internado no hospital para uma operação ao coração. Depois disso não mais consegui contactar com ele. O telefone da casa dele dá sinal de desligado e não consegui descobrir se mudou de residência ou se, pura e simplesmente, desistiu da assinatura e passou a usar telemóvel.
O João Silva é um caso mais caricato. Já não recordo como nem quando consegui localizá-lo, mas mora em Lisboa, sempre recebeu as minhas cartas convidando-o para os nossos almoços-convívio e nunca apareceu. Nos primeiros anos, eu reiterava o meu convite com um telefonema personalizado em que repetidamente me dizia que "este ano é que vou de certeza", mas sem nunca cumprir o prometido.
Num desses telefonemas contou-me uma história que me custa a acreditar ser verdadeira, mas que também não tenho maneira de confirmar ou desmentir. Disse-me ele ter estado muito pouco tempo na CF2 e que regressou à Metrópole para ingressar no Curso de Enfermagem. E que, depois de regressar, não o deixaram frequentar esse tal curso, o que o levou a desertar. Que andou mais de um ano cá fora e depois resolveu apresentar-se e cumpriu pena de prisão no Corpo de Marinheiros. E que depois desse historial de "crimes e castigos" sempre conseguiu ser aceite no curso de enfermagem que completou ingressando no quadro do pessoal de Saúde.
Depois de sair da Marinha praticou a actividade de enfermeiro na vida civil até se ter transformado em empresário na área de armazenagem e distribuição, não sei se de materiais ligados à saúde, alimentação ou outra coisa qualquer. Custou-me muito a engolir essa história e não quis dedicar-lhe mais tempo da minha atenção. Passei-a para o "arquivo morto" da minha memória.
A primeira coisa que me custa a aceitar é o seu regresso antecipado a Lisboa. Eu considero ter muito boa memória e, para além dos Cabos que regressaram para frequentar o Curso de Sargentos, só me lembro de 3 casos de regressos antecipados. O Fragata e o Cascalho por razões disciplinares e o Arménio por razões de saúde, os quais foram rendidos pelo Ladeira, pelo Arlindo e pelo Amaral, respectivamente. Admito apenas que isso possa ter acontecido após o mês de Setembro de 1964, altura em que fui para o Niassa e deixei de acompanhar o que se passava na Machava. Mas se ele regressou nessa altura não pode dizer que esteve pouco tempo na Companhia, pois já tinham decorrido 2 anos da nossa comissão.
Enfim, coisas que só ocupam o bestunto de quem não tem mais nada em que pensar!

domingo, 4 de maio de 2014

Os últimos graduados!

Vou aproveitar a embalagem para publicar mais três fotografias que completam a lista de graduados da CF2. Tudo isto dá trabalho, procurar, conferir, tentar não falhar nem repetir nenhum dos camaradas e enquanto a memória está fresca há que aproveitar.
Por ordem de antiguidade, o próximo é o Rodrigues. Como pertencíamos a pelotões diferentes, ele do 1º e eu do 2º, nunca fizemos serviço juntos, não foi comigo para Metangula e também não fazíamos companhia um ao outro quando saíamos de licença para a cidade. A coisa mais curiosa que conheço a seu respeito é o facto de ele e outros dois camaradas fuzileiros terem casado com 3 irmãs e terem ido viver para a freguesia de Santar, na Beira Alta, depois de terem passado à disponibilidade. Ali veio a falecer alguns anos mais tarde e ali está sepultado. Por curiosidade, para aqueles que os conhecem, refiro aqui o nome dos dois camaradas e cunhados do Rodrigues. O primeiro é o Manuel Matias, casualmente o meu chefe de secção no 2º Pelotão da CF2, e o Olegário que é fuzileiro especial e fez a primeira comissão no 1º DFE4, em Angola.
Quem passar por Santar, pitoresca e histórica aldeia de Portugal, pode fazer uma paragem e fazer uma visita a estes dois grandes fuzileiros que ali vão gozando as suas reformas e saboreando umas boas garrafas do Dão (acredito eu).
Depois do Cabo Rodrigues segue-se o Marinheiro Clarim Daniel. Que posso dizer a seu respeito? Que era o «Bombo da Festa» da Companhia, por causa da sua dependência do álcool, é o mínimo que posso dizer. Não sei se era casado ou solteiro, mas no Infulene arranjou uma "preta" e para lá corria a toda a hora. Como ela tinha palhota nas proximidades da cantina "Bouissa Male", era certo e sabido que não ia a um lado sem ir ao outro. De manhã, quando agarrava o clarim para tocar a Alvorada, era raro sair alguma coisa de jeito. Mas já estava todo o mundo habituado e ninguém lhe criava problemas por isso. As habituais brincadeiras de lhe esconder o instrumento, ou atafulhar o bocal com uma mão cheia de desperdícios não o irritavam muito. Ia até à cantina, bebia mais uma Laurentina e seguia feliz da vida.
Na hora de regressarmos a Lisboa ele não queria ir connosco, mas não me lembro se acabou por ficar com a CF6 do Patrício, se ficou no Comando Naval ou se veio até Lisboa. O que sei é que quando lá cheguei com a CF8 ele passou a ser o nosso Clarim e fez a comissão toda connosco, indo para o Niassa e tudo o resto. E iria jurar que lá ficou, não sei se como civil ou militar, quando nos viemos embora, em 1968.
E o último deste lote é o Bernardino. Era Artilheiro e fazia equipa com o Emídio e o Lúcio, sendo eles os três, auxiliados por três 1º Grumetes, os responsáveis pelas armas pesadas, metralhadoras, morteiros e bazucas.
Também não convivi muito com ele durante a comissão e como não era do meu pelotão, não fazíamos serviço juntos. Quando estourou a bronca no norte, eu fui e ele ficou em Lourenço Marques. E assim terminou a nossa comissão sem grandes contactos.
Quando comecei à procura do pessoal, em 2008, disseram-me logo para não o procurar, pois tinha já falecido há muito tempo. Isso fez com que não tivesse sequer descoberto de que terra era oriundo e onde foi sepultado, coisa que tentei sempre saber em relação a todos os camaradas. Hei-de perguntar ao Emídio, pois sendo filhos da mesma escola ele deve saber.

sábado, 3 de maio de 2014

Sargentos e Cabos!

Respeitando a ordem natural das coisas, ou seja, ordenando as minhas publicações pelo posto ou antiguidade, depois dos oficiais seguem-se os Sargentos e Cabos. O primeiro de todos eles é um homem que veio lá dos confins da Beira Alta, na raia espanhola e acabou o seu percurso na terra em Sintra, onde tinha montado um negócio ligado à saúde, a sua especialidade na Marinha. Segundo o que consegui saber, o Sargento Monteiro não teve descendência e tendo morrido em Sintra pediu para o levarem de volta para a sua aldeia natal, onde foi sepultado.


Com o posto de Sargento apenas mais um, o Melro. Não sei grande coisa sobre ele. Soube que tinha falecido e fui encontrar a sua família em Benavente, filha e neta, que nunca se mostraram muito abertas a falar do seu familiar. Do meu lado também não houve um grande esforço para levar por diante a investigação, uma vez que eu e o Sargento Melro éramos inimigos de estimação. Ele tirou o "cabaço" à minha Caderneta Militar, pintando-a de vermelho com 5 dias de detenção. Bem lhe pediu o 1º Comandante que retirasse a queixa, por achar que eu não devia ser castigado, ou seja, que ele tinha tanta culpa como eu no acontecido, mas de nada valeu. Ele era meu superior, eu faltei-lhe ao respeito e com muita pena do comandante tive que gramar o castigo. Fui mais tarde amnistiado, aquando da visita do Presidente da República, mas a Caderneta já estava suja e assim ficou e foi piorando com o tempo. Eu saí da Marinha em 1968 e ele continuou, mas nunca fez grande carreira, parece que não passou de 1º Sargento e veio a morrer cedo sem honra nem glória (como é uso dizer-se).

O próximo da lista é o Domingos, o cozinheiro da Messe dos Oficiais e Sargentos. Deste nosso camarada é que eu não vos consigo contar coisa nenhuma. Quando li o nome dele na lista do pessoal da Companhia, não fazia a mínima ideia de quem se tratava, nem que lugar ou função ocupava na nossa Unidade. Foi preciso ver uma série de fotografias e trocar umas impressões com outros camaradas para reconstituir a minha memória a seu respeito. Eu e ele não tivemos o mínimo contacto durante toda a comissão, as nossas idades e funções não eram de molde a aproximar-nos, e nunca mais o vi ou ouvi falar dele depois de termos desembarcado do Infante D.Henrique.

Segue-se o Cabo Santarém, homem com uma história "sui generis". Muitas coisas poderia aqui contar sobre ele, nem todas muito bonitas, mas vou limitar-me a mencionar apenas uma particularidade que o tornou famoso em toda a Lourenço Marques daquele tempo. Era o homem sexualmente mais avantajado de toda a Companhia e mulher que fosse com ele para a cama, não repetia a aventura. A tal ponto que, a partir de uma certa altura, só uma mulata gorducha que parava no Central aceitava "coisar" com ele. E na manhã seguinte, contava ela, ia para a praia sentar-se dentro d'água para normalizar a "pachacha". Se não estou em erro, apanhou uma pena de prisão por ter desobedecido a uma ordem de um superior e acabou por pedir a baixa e ficar em Lourenço Marques quando nós regressamos a Lisboa.

E como último deste grupo, outro homem que tinha mais defeitos que qualidades. Por alcunha «O Marreco», o Carlos Alberto terminou o Curso de Conversão quando eu andava a marcar passo na minha recruta. Com o fim do curso e a entrada no quadro de fuzileiros passou de Marinheiro a Cabo e foi agregado à CF2 que começou a ser formada ainda nós não tínhamos terminado o ITE. Era um homem de trato difícil, tanto com os superiores como com os subordinados. Era fanático com a sua condição física e portanto amigo do desporto. Ficou célebre por ter tatuado no peito a cara da sua namorada com quem nunca viria a casar. Se fosse agora poderia livrar-se da tatuagem, mas naquele tempo não existia ainda essa possibilidade.

Como vêem não é grande a história que consegui reunir sobre estes camaradas e por isso peço aos comentadores que os tenham conhecido que contribuam para melhorar a coisa com um comentário a preceito.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Ainda não acabou não!

Depois de publicadas as 122 fotografias que podem encontrar com a etiqueta de «Antes&Depois», é altura de explicar o que se passa com o resto do pessoal, pois não havia Companhias de Fuzileiros com 122 homens apenas.
Usando todos os documentos e informações que me chegaram às mãos cheguei à conclusão que foram 151 os membros da CF2 com comissão completa ou não. Além dos 8 grumetes da escola de 1963 que mencionei na mensagem anterior, tivemos um oficial substituído (Abecassis) por razões de inadaptação e três grumetes (Fragata, Cascalho e Arménio) por razões de saúde ou disciplinar. Assim temos que 151 menos 12 corresponde a 139 homens que teriam saído de Lisboa, originalmente, em 1962. É um número que me soa a esquisito, mas não tenho maneira de o confirmar ou rebater, de modo que sou obrigado a aceitá-lo.
Com excepção do 1º Comandante, de quem não consegui arranjar qualquer fotografia, reuni fotos da época de toda a gente, mas não consegui fotografias actuais para preparar a combinação que já conhecem. Duas razões estiveram por trás disso. A primeira tem a ver com aqueles que já faleceram, de quem consegui algumas através de familiares que consegui contactar. E a segunda com os que nunca quiseram ou puderam comparecer aos nossos convívios e, por conseguinte, não puderam ser apanhados pela objectiva dos meus fotógrafos de serviço.
Sob a etiqueta «Caras da época» vou publicar aqui as fotos, algumas com pouca qualidade, que consegui reunir. E começo com os oficiais, cujas fotografias consegui sacar do site «Reserva Naval» e são, por isso, as melhores do lote.






Todos eles já falecidos, o último deles o França e Sousa que era professor em Lisboa. O Magalhães e o Mendes eram médicos e muita gente me reportou ter-se cruzado com eles nos hospitais de Lisboa. Do Miranda (grande maluco) e do Abecassis (regressado a meio da comissão) não consegui saber por onde andaram depois de 1965.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Os mais «Marretas»!

Na Marinha diz-se (e aplica-se na prática) que "a antiguidade é um posto". Em oposição ao "mais antigo" existe o "mais moderno" que na gíria da marujada muda para "mais marreta". Dizer que um camarada é mais marreta não quer dizer que seja considerado um "palermoide, um martelão, ou coisa parecida e ninguém toma isso como um insulto.
No dia do meu baptismo de fogo (emboscada da povoação do Lipoche, Niassa, Moçambique) era eu o chefe da minha esquadra de 4 homens só porque o meu número de matrícula era o 16429 e os meus 3 camaradas, com os números 16451, 16452 e 16480 eram todos mais marretas que eu e sendo eu o mais antigo era eu o chefe (olha eu aqui todo inchado!).
Tudo isto para compreenderem o título desta mensagem que se refere aos últimos membros da nossa Companhia de Fuzileiros. No início do ano de 1964, todos os Cabos da CF2 foram chamados a Lisboa para frequentarem o Curso de Sargentos. Uns quantos grumetes, da Escola de Março de 1963, foram enviados para os substituir refazendo os efectivos da Companhia. Vou mostrar-vos a cara deles para saberem de quem falo.

Por curiosidade posso dizer-vos que este simpático
filho da escola, entre nós conhecido pela alcunha de
Micróbio, devido à sua baixa estatura, depois de sair da
Marinha, ficou a morar em Vila Pouca de Aguiar,
trabalhou como empregado da Câmara e ali veio a
falecer, já depois de reformado.

Sei apenas que vive nos Estados Unidos, na zona
de Newark, e foi com muita dificuldade que eu
consegui estabelecer contacto com ele e obter a
foto (de qualidade duvidosa) que vêem acima.

O Bonanza, alcunha ganha pela semelhança com
um dos personagens da famosa série da TV, que
era oriundo do Porto e reside actualmente do
outro lado do Douro, em Gaia.

Um artista da bola este filho do meu concelho de Barcelos.
Passou a vida como emigrante no Luxemburgo, teve a
desgraça de ver a mulher e filhos adoecerem com a
terrível "doença dos pezinhos" e depois de viúvo
teve ainda o azar de sofrer uma trombose que o
deixou muito incapacitado.

O grande Albertino que me acompanhou na aventura
em Metangula seguiu a carreira da Marinha, atingindo
o posto de Cabo e faleceu precocemente sem eu ter
descoberto exactamente de que doença.

O Vitorino era oriundo da margem esquerda do rio
Douro, de uma aldeia fronteira à Régua, e ali o fui
encontrar 45 anos depois de regressarmos da nossa
comissão em Moçambique.

O Artur, transmontano da região de Valpaços, era
conhecido pela alcunha de Twist, talvez por se
habilitar a executar alguns passos dessa dança que
estava na moda nos anos 60. Fez a sua vida como
emigrante na Suíça e lá vive ainda como reformado.

O Zé Correia, por alcunha o Ruço, é meu vizinho aqui
da Póvoa e por mais estranho que isso possa parecer
nunca tive conhecimento disso, enquanto estivemos
na Marinha. Só quando comecei a tentar localizar todo
o pessoal vim a descobrir que morava aqui mesmo ao
pé de mim. Também ele, assim como o Micróbio, o
Bonanza e o Albertino fazia parte do pelotão que foi
para o Niassa no início da guerra (Setembro/64).

Tradição dos Maios!

Sempre respeitei a tradição dos «Maios». Na noite de 30 de Abril enfeitam-se as portas e janelas para que o «Burro» não nos entre em casa durante a noite e possamos ter um 1º de Maio cheio de alegria e felicidade. Todos os anos eu ia ao monte e trazia montes de giestas em flor para que toda a minha vizinhança pudesse enfeitar as suas portas e janelas. Pois bem, hoje isso não aconteceu. Tive um dia um tanto ou quanto atrapalhado que terminou com uma seca de duas horas no Centro de Saúde para fazer o habitual check up, o que acontece duas vezes por ano, depois veio o jogo do Chelsea (que correu muito mal!!!) e acabei por esquecer-me da obrigação que a mim mesmo impus.
Ao regressar a casa, depois de acabar o jogo do Mourinho, reparei que todas as portas da minha rua estavam enfeitadas com os Maios e apercebi-me do meu esquecimento. Valeu-me um amigo que comigo fazia o caminho de regresso a casa e que me convidou a acompanhá-lo, dizendo que não deviam faltar giestas em sua casa, sobras dos enfeites feitos pela sua mulher. Aceitei o convite e, embora não tivesse sobrado grande coisa, foi o suficiente para eu me desenrascar (como se diz nos fuzileiros) e fazer um raminho para a porta da frente e outro para a das traseiras da minha sanzala.
Comparado com anos anteriores ficou mal enfeitado, mas acredito que o Burro não conseguirá entrar cá em casa e terei, quando acordar, um rico 1º de Maio. Que desejo também para todos vocês que lerem esta minha mensagem.
Um bom 1º de Maio!
Um bom Dia do Trabalhador!
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Dia 1º de Maio - 09.30 Horas
Quando publiquei esta mensagem já passava da meia noite e tanto pela hora tardia como pela falta de luz não deu para fazer a fotografia do meu «Maio» feito à pressa. Hoje acordou um belo dia cheio de sol, agarrei na câmara fotográfica e fui até à porta registar a ocorrência (na Marinha existia o Livro de Ocorrências, lembram-se com certeza do sargento mausão sempre a ameaçar - olha que vais para o livro!). E cá está a imagem para verem como é que se fazem as coisas por aqui.