terça-feira, 6 de maio de 2014

Continuemos com as fotos!

Depois de um curto interregno para descontrair, vou continuar com a publicação das fotos dos meus camaradas de comissão para ver se acabo com isto rapidamente. Depois dos oficiais, sargentos, cabos e marinheiros sobram os grumetes, alguns da escola de Setembro de 1961 e outros da minha escola, a de Março de 1962.
O primeiro da lista é o Mário Martins, um rapaz fortalhuço que tinha uma peitaça impressionante. Aliás, o seu peito era uma espécie de ex-libris da sua personalidade. Se alguém perguntava pelo Mário, a resposta era uma nova pergunta:
- Qual Mário, o do peito para fora?
Como quase sempre acontece com os homens que têm um cabedal de respeito, o Mário era "um paz d'alma", fizessem o que lhe fizessem nunca se irritava. Era um verdadeiro camarada e estava sempre pronto a ajudar no que fosse preciso.
Nunca mais lhe pus a vista em cima, desde que desembarcamos do Infante D.Henrique, no dia 11 de Abril de 1965. Quando fui à procura dele para reunir toda a Companhia, em 2008, já o encontrei sepultado no cemitério da freguesia de Adémia, Coimbra. Soube que trabalhou muitos anos como encarregado da manutenção nas oficinas da Rodoviária, em Coimbra, e morreu de repente (suponho que) de cancro.
A seguir ao Mário vem o António Chaveiro. Alentejano da zona do Cercal, segundo as informações (poucas) que consegui recolher. Não houve quem me soubesse dizer o nome da sua terra de origem, se tinha feito carreira na Marinha ou saído logo após a comissão. Tudo que me disseram é que era já falecido, o que fez com que eu não levasse mais longe as minhas pesquisas.
Ainda publiquei na internet uma série de mensagens, na tentativa de atingir algum membro da sua família e houve alguém que entrou em contacto comigo dizendo que não era da família, mas tinha maneira de me arranjar a informação que eu procurava. Dei-lhe todos os pormenores e fiquei à espera ... até hoje. Há pouco tempo atrás, arranjei um amigo no Facebook que se chama António Chaveiro e também foi marinheiro. Perguntei-lhe se por acaso havia algum laço de família com o meu camarada da CF2, mas a sua resposta foi negativa.
O terceiro desta pequena lista que junta os recrutas de Setembro de 1961 é o Carlos Trindade, mais conhecido entre nós pela alcunha de «Fina Flor», ou apenas «Flor».
O Flor era um homem só. Não tinha amigos, isolava-se lá no seu mundo, cumpria as ordens que recebia sem discussões e desempenhava as tarefas que lhe eram distribuídas sem reclamar. Nas horas vagas passava o tempo a deambular pela mata da Estação Radionaval na companhia da Bolinha, a nossa cadelinha mascote.
Quando perguntei por ele, em 2008, logo me informaram que tinha um restaurante na Amadora e seria fácil entrar em contacto com ele, o que de facto não aconteceu. Quando contactei esse restaurante, de que me tinham dado o nome, já tinha sido trespassado e não me souberam dizer quem era ou onde morava o antigo proprietário. Mas acabei por localizá-lo a morar na Falagueira/Amadora, só que nunca consegui convencê-lo a juntar-se a nós. Continua tão introvertido como sempre foi. Que lhe havemos de fazer? Com esta idade já não muda com toda a certeza.
E para terminar temos o Paulino, o Lisboa por alcunha. Ele era o escriturário da nossa Companhia. Os livros da Secretaria, a transcrição da Ordem do Dia ou a actualização das nossas Cadernetas Militares eram coisas que passavam pelas suas mãos. Lisboeta de nascença e rapaz de fino trato, o Paulino dava-se bem com toda a gente, era, se assim posso dizer, um  verdadeiro diplomata. Pena ter morrido tão cedo. Como costuma dizer-se, morrem os bons e ficam cá os que não prestam.
Houve uma infracção que ele praticou a meu pedido que, passados tantos anos e com ele já falecido, posso relatar sem medo de o prejudicar com estas declarações. Como já contei aqui, quando publiquei a foto do Sargento Melro, apanhei 5 dias de detenção que foram registados na minha Caderneta pelo seu punho. No seguimento desse castigo, o nosso comandante deu também uma repreensão ao Melro, por não ter aprovado a sua atitude. Quando o Américo Tomás visitou Moçambique, em 1963, esses castigos foram amnistiados. O Melro, por intermédio do sargento que chefiava a Secretaria, teve acesso à sua Caderneta e disfarçou o registo do castigo de tal modo que não conseguia ler-se o que lá tinha sido escrito.
O Paulino soube disso e numa ocasião que estive com ele na Secretaria mostrou-me o "trabalhinho". Pedi-lhe a minha Caderneta para fazer o mesmo ao meu castigo e ele, muito em segredo, confiou-ma durante uns tempos. Não consegui disfarçar nada, mas rabisquei-a de tal modo que quase destruí aquela página da Caderneta. Depois fiquei com medo de o comandante poder ver aquilo e chamar o Paulino à pedra, mas felizmente nada aconteceu.

2 comentários:

  1. Cruzei-me com o Mário Martins em Maio de 1987 no Hospital dos Covões em Coimbra. Fui internado de urgência com pneumonia atípica no serviço de doenças infeciosas, quando passado três dias de internamento e já experimentar algumas melhoras ouvi aquele vozeirão ao fundo da enfermaria e tive aquele clique. Eu conheço aquela voz mas não me lembrava de onde era.
    Quando me pude deslocar fui até à Sua cama e dei-me com ele em muito mau estado dos pulmões, pois tinha um dreno a retirar liquido. Eu estava mal mas o caso dele era bem pior. Falamos pouco, pois a situação não era de todo propícia. Eu estive internado 10 dias e ele lá ficou a lutar com a doença sobre a qual nunca falámos. Mas penso que nessa data ainda recuperou. Só soube que tinha falecido quando organizas-te o nosso encontro.

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  2. O Mário viria a falecer no dia 4 de Fevereiro do ano 2000, como vim a verificar quando visitei a sua campa no cemitério da Adémia.

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