quinta-feira, 6 de março de 2025

Sérgio Rego (16593)!


 Este filho da escola que esteve comigo, em Moçambique, na CF2, depois de frequentar o Curso de 1º Grau seguiu para a Guiné, incorporado na CF9, e ficou guineense a partir daí! Não posso garantir que seja assim mesmo, mas ouvi dizer que foi uma mulher que lá conheceu que o fez regressar uma vez após outra, tendo completado 4 comissões naquela antiga colónia portuguesa. Possivelmente, só o fim da guerra e a independência o fizeram voltar a Portugal.

Enquanto lá esteve, tirou a carta de condução e transformou-se em condutor, em vez de ir para o mato, como mandam as regras dos fuzileiros (marinheiros do mato). Iria jurar que abriu mesmo uma escola de condução, onde funcionava como instrutor nas horas vagas. De qualquer modo, foi essa a sua profissão, quando regressou da Guiné e ficou a viver no concelho do Seixal (ou Almada, não tenho a certeza).

Mas o seu problema (se lhe posso chamar assim) foram sempre as mulheres, uma reteve-o na Guiné, durante 6 ou 7 anos. Depois casou-se com uma antiga namorada que tinha deixado lá em Trás-os-Montes, quando veio para a Marinha. Depois arranjou namoro com outra que vivia no Canadá e era casada, com quem chegou a viver e lhe deu uma filha. Como essas duas (ou três) não fossem suficientes, arranjou outra com quem viveu mais tempo e partilhou um negócio de Pronto-a-Vestir.

Como gostava de viver rodeado de mulheres, arranjou uma meia dúzia de raparigas com habilidade para a costura que com ele e a sua nova conquista feminina faziam girar o negócio da roupa, ora comprando e vendendo, ora dedicando a arranjos e acertos de medidas em roupa comprada noutro lado. Clientes não lhe faltaram, tanto quanto me contaram.

No mês passado, faleceu num Lar onde tinha sido internado, uma vez que a saúde não lhe permitia viver sozinho que foi como acabou, depois de ter vivido e dormido com tantas mulheres. Soube que uma das suas filhas esteve com ele, nestes últimos tempos, parece-me que era a filha da tal canadiana que depois da aventura com este filho da minha escola, regressou para os braços do marido, no Canadá.

Com filhos de 3 mulheres e alguns bens que conseguiu reunir ao longo de uma vida de quase 84 anos, vai obrigá-los a andar pelos tribunais para resolver o problema das heranças. Uma casa que chegou comprar na sua terra natal, acho que ficou para a sua primeira mulher e namorada dos tempos da juventude, a qual continua a viver em Trás-os-Montes, Carrazeda de Anciães, se não estou enganado.

Na sua carreira militar, na Marinha de Guerra, atingiu o posto de sargento (suponho que 1º ou Ajudante) e assim foi reformado, mas era do negócio, Escola de Condução, Pronto a Vestir, etc., donde lhe vinham os maiores rendimentos, os quais lhe permitiam uma vida com certas larguezas. Não se pode dizer que não gozou a vida, o pior foi a saúde que lhe faltou nestes últimos 10 anos.

Estive com ele, pela última vez, num convívio realizado em Montemor-o-Novo, no ano de 2010, já lá vão quase 15 anos! Agora não o verei mais, a não ser quando chegar, ao sítio onde ele foi parar agora, se é que isso existe. Há quem não acredite noutra vida, depois desta, e eu, confesso, também tenho as minhas dúvidas.

Seja como for, ao fim de tantos trabalhos que Deus lhe garanta o descanso eterno e lhe perdoe os pecados que foram muitos!

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Os 3 Rodrigues!

 Hoje, passei uma hora ao telefone com o Ai'Cone, filho da escola que mora no Entroncamento. Pusemos a conversa em dia, falámos deste e daquele, da saúde precária nesta fase adiantada da vida e, em especial, falamos dele e da sua estadia de cerca de 10 anos, em Lourenço Marques. Não fazia a mínima ideia que ele fazia parte dos retornados que, a seguir ao 25 de Abril, regressaram à Metrópole de mãos a abanar.

Falámos de vários camaradas, uns vivos e outros já falecidos e, no meio de todas essas recordações surgiu o nome do Rodrigues (16718) que lhe arranjou o emprego nos Armazéns do Chiado, depois de sair da Marinha. Este António Rodrigues era o mais "marreta" dor 3 que faziam parte da nossa Companhia. Foi taxista, em Castelo Branco, durante grande parte da sua vida e faleceu, há já bastantes anos, levado por um cancro.

Os outros dois camaradas que usavam o mesmo nome eram o 16540 que moa lá para os lados de Sintra e nunca quis participar nos nossos convívios e um 15900 e qualquer coisa (não recordo o número exacto) que mora ali para os lados de Tomar e, segundo me disse a sua esposa, sofre de Alzheimer e por essa razão deixou de aparecer nos nossos convívios. Pode ser apenas uma desculpa dela (espero que sim) para ele não aparecer, pois a sua situação financeira não é brilhante e cada euro faz falta para coisas mais importantes.



O António Rodrigues, à direita, ao lado do Artur Leiria.

Não pude montar uma imagem igual à dos outros dois, pois nunca consegui arranjar uma foto dele da actualidade.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Ano Novo, vida de sempre!


Em todos os convívios que organizei tentei convencer os camaradas fuzos a ir dando notícias e dar o meu contacto a um seu familiar para me contactar se o pior acontecesse. Eu não posso ligar a todos, seria incomportável na minha conta telefónica, mas vocês só têm que fazer uma chamada cada um para eu ir recebendo notícias e actualizar a minha informação que vou publicando, sempre que se justifique, para que chegue ao conhecimento de todos, dizia-lhes eu.

De pouco valeu o meu aviso repetido vezes sem conta. Os anos sucedem-se a uma velocidade estonteante e os amigos vão passando para outra dimensão sem me avisarem. Se e quando eu morrer avisem os amigos, a família não é preciso, pois mal seria se não estivessem a par do meu estado de saúde. Há 15 dias soube da morte do 21 - era assim que os camaradas da CF2 lhe chamavam - e hoje passei pelo cemitério da freguesia onde morava o Ruço para vos trazer uma foto da sua placa fúnebre.

Ele morava aqui bem perto de mim, mas nunca se deu ao trabalho de aparecer. Eu ainda lhe dei boleia, uma vez ou duas, para os nossos convívios, mas isso não lhe criou o hábito de me ligar no Natal, ou noutra ocasião qualquer. Gostaria que ele me tivesse ligado a perguntar: - então, este ano não há convívio? Mas não, nunca ligou e quando eu achei que já tinha passado tempo demais, fui à sua procura e soube que tinha falecido.

Hoje, para começar o ano com uma boa acção passei pelo cemitério da freguesia onde ele morava e fui à procura da campa. Com alguma sorte teria lá uma foto que eu poderia fotografar e publicar aqui. Deu-me algum trabalho para localizar a campa, mas lá consegui e trouxe comigo a foto que lá tinha, repartindo a sua última morada com a esposa que tinha já falecido uns anos antes.

Vou já avisando que a foto é bastante antiga, ele agora estava mais gordinho, coisas da reforma. E pronto, por agora é tudo que tenho para vos contar. Haja saúde que na nossa ideia é o bem mais precioso e um FELIZ ANO NOVO para todos que passarem por este espeço que partilho convosco!

terça-feira, 24 de dezembro de 2024

O Lousa!

 


Dono de um físico impressionante o Lousa gostava de defender os mais fracos. Uma vez, não me lembro a propósito de quê, ele veio ter comigo e disse-me: - se ele te bater avisa-me que eu dou-lhe cabo dos cornos!

Estamos em maré de Natal e, como é própria desta época festiva, trocam-se telefonemas entre os amigos que ainda se vão lembrando de nós. Há poucos minutos, ligou-me o Xabregas e depois dos cumprimentos da praxe e dos votos de Boas Festas, fui-lhe perguntando o que sabia dos camaradas mais velhos, alguns dos quais já passaram pelo 84º aniversário, e contou-me ele que o Manel Lousa já não é deste mundo. Como é costume dizer-se, foi na vez dele e deixou-nos para trás!

A bem dizer, eu só convivi com este camarada, quando fomos para Metangula, em Setembro de 1964, até aí não me lembro de nada que nos ligasse. Houve tempos em que ele, depois de ter tirado a carta de condução, fez alguns serviços como condutor, lembro-me dele num jeep a levar a Guarda aos postos mais afastados, como, por exemplo, as Transmissões, para além disso ... nada!

De qualquer modo, cumpre-me o dever de dar esta notícia aos restantes membros da nossa Companhia que vão resistindo e já não são muitos!

sábado, 21 de dezembro de 2024

Menos um - actualização!

 


Ontem, passei por Barcelos e pareceu-me mal não ir à procura de notícias do 21, era assim que os filhos da sua escola o tratavam (18221). Sem surpresa, fiquei a saber que tinha já falecido, em 2014. Não fazia ideia que já tinha passado tanto tempo desde que estivera com ele e a sua nova mulher mo hospital de Barcelos.

Na altura ia acompanhado pelo Zé Correia e pelo Salvador Barbosa, eles é que eram, realmente, os amigos dele, eu apenas servi de taxista. Em Moçambique, nunca me lembro de nos termos cruzado em serviço. Enquanto que o Artur  (Twist) e o Vitorino fizeram muitos serviços comigo, ele não, devia pertencer a outro pelotão.

Quando o meu pelotão foi para Metangula, em Setembro de 64, ele ficou para trás e depois do nosso regresso a Lourenço Marques, já a comissão estava no fim e foi tempo de fazer as malas e apanhar o Infante D. Henrique.

Depois da Marinha, na sua vida civil, ele foi emigrante no Luxemburgo e só regressou a Barcelos depois de enviuvar e ter sofrido um, ou vários, AVC que o deixou em muito mau estado. Só conseguia caminhar arrimado a um pau, com a bengala não conseguia equilibrar-se, e mal conseguia falar. A mulher com quem se casou tinha a doença dos pezinhos e deu-lhe 3 filhos todos com o mesmo mal.

Após ter ficado viúvo, teve a sorte de arranjar uma nova mulher que o ajudou a suportar a sua invalidez e lhe facilitou a vida, enquanto por cá andou. A sua filha, a mais velha dos 3, já faleceu também. Dos dois filhos, o mais novo foi o primeiro a ser transplantado e leva uma vida, digamos, normal. O mais velho também foi transplantado, mas, talvez porque a doença já tinha alcançado um estado muito avançado, não tem a mesma qualidade de vida do seu irmão.

E é assim a vida, a nossa Companhia está quase a alcançar um número de baixas igual ao dos que continuam por cá. E há uma meia dúzia deles que desapareceram do meu radar e não posso garantir que estejam ainda vivos. Para quem cá estiver desejo um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo, aos outros que descansem em paz e Deus os não abandone!


quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

O Ruço!

 No início de 1964, foram chamados à Metrópole todos os cabos da CF2 que estavam em condições de concorrer a sargentos. A maioria, senão todos, eram fuzos concorrentes que tinham vindo de outras especialidades para mais rapidamente ascenderem na carreira militar. Nos seus antigos quadros talvez nem cabos fossem ainda, nos fuzileiros seriam sargentos todos os que terminassem o curso com aproveitamento.

Uma tal razia no pessoal fez com que o Comando Naval pedisse a Lisboa que enviasse substitutos para tomarem o lugar dos que regressaram para frequentar o curso. Como Cabos era coisa que não existia, foram enviados 9 2º Grumetes para ocupar o lugar. Os recém-promovidos a Marinheiros (todos filhos da escola de Setembro de 61) ocupariam o lugar dos Cabos até que a Companhia completasse a comissão, o que estava previsto para antes do Natal desse ano.

Os dois primeiros nomes da lista acima não faziam parte desse lote, tinham já vindo anteriormente para render dois "maus" elementos que regressaram à Metrópole para cumprir penas de prisão. Um deles, por ser voluntário, seria expulso da Marinha após cumprimento da pena. O outro, conotado com o Partido Comunista, andou por lá a amargar os seu dias, até levar baixa.

Mas, voltando aos 9 grumetes que foi o que me trouxe aqui, recebi notícias que o último da lista, Zé Correia, mais conhecido pela alcunha de Ruço, tinha falecido. Ele não morava muito longe de mim e, de vez em quando eu passava por casa dele para saber notícias. Da última vez que lá passei, encontrei a casa fechada, o que me pareceu esquisito, e dirigi-me a uma vizinha para pedir notícias. Talvez ele ou a mulher tivessem falecido e o sobrevivente fosse viver com um dos filhos (eu sabia que ele tinha dois).

Infelizmente não era o caso, a vizinha lá me foi contando o que são as tristezas desta vida, quando a gente chega a velho e não vende saúde. Um deles morrera primeiro e o outro, doente e sozinho, depressa lhe seguiu o destino. Numa questão de poucos meses, ambos morreram e a casa ficou vazia. Se não estou em erro, ele era de 1942, portanto não muito velho ainda, mas isso não quer dizer nada, a malvada quando aparece não aceita recusas.

Como se pode ver pela cor com que pintei os seus nomes, dos 9 há já 4 falecidos. Dos 5 restantes só tenho notícias do Artur Teixeira que vive na Suíça. Dos outros, havia dois que eram doentes crónicos, o Eduardo Cardoso, diabético há muitos anos, e o António Barbosa incapacitado com uma série de AVC's que o deixaram totalmente dependente de terceiros.

Os outros dois, de quem perdi o rasto e não tenho notícias, há muitos anos, um morava nos Estados Unidos, zona de Newark, e o outro em Odivelas. Não estando eles muito interessados em dar notícias, quem sou eu para obrigá-los?

E assim ficou a CF2 mais pobre com um novo elemento destacado para «as hostes celestiais»!

 

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

O Bento!

 


O meu camarada Bento era alentejano, ouvi dizer que da aldeia de S. Bento, mas talvez isso seja confusão com o seu nome próprio. Na minha recruta era do último pelotão da segunda companhia, enquanto que eu era do segundo da primeira companhia.

Isso significa que era muito raro cruzarmos um com o outro. Nas aulas, nunca, na formatura ele ficava a 250 homens de mim, no refeitório eu ficava logo à entrada e ele na penúltima mesa, lá ao fundo, nas saídas de licença ainda menos, nunca me esbarrei com ele em lado nenhum dos que eu frequentava.

Depois partimos juntos para Moçambique. Juntos é como quem diz, pois ele foi num avião e eu fui noutro. Lá chegados ele acantonou na Caserna Nº 1, dita dos alentejanos, e eu na Nº 2 com malta mais diversificada. Também lá continuamos separados, pois como entrava de serviço um pelotão de cada vez, eu estava de folga quando ele estava no posto.

Mais tarde, acabada a guerra para mim, passei à disponibilidade, enquanto ele continuou a carreira e a participar na Guerra Colonial, até ao 25 de Abril.

Em 2002 comecei a aparecer nos convívios dos Filhos da minha Escola e lá o reencontrei. E quando comecei a organizar os convívios da Companhia 2, lá compareceu um par de vezes. Falhou muitos, pois só ia se houvesse um autocarro organizado para levar a malta, coisa que eu nunca consegui fazer.

Agora partiu para outra dimensão e nunca mais o verei. A sua mulher tinha já falecido, há uma boa meia dúzia de anos, deixando-o muito afectado, Pelo menos acabou esse sofrimento, visto que foi juntar-se a ela. Que descanse em paz, é tudo o que posso desejar-lhe agora!


quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Cada tiro, cada melro!

 


Se não for a doença será a idade a dar a machadada final em cada um dos rapazes da Companhia 2, a primeira a marchar para Moçambique para precaver a chegada do "terrorismo" que nascera, em Angola, no primeiro trimestre de 1961. Foi enviada aos poucos, por via aérea, e só em fins de Novembro de 62 ficou completa. De qualquer modo muito tiveram que esperar, pois só em Setembro de 64 se dispararam os primeiros tiros naquela colónia portuguesa. O Salazar bem lhe mudou o nome para província, mas de pouco adiantou, pois os portugueses foram mesmo os colonizadores de Moçambique, até que a Guerra Colonial pôs fim a isso. 

Na foto acima pode ver-se a primeira equipa dos «Cães de Guerra» nascida, em Moçambique, na segunda metade de 1963. Da esquerda para a direita podemos ver o Elias, o Lisboa (em dúvida), o Pencas, o Tomé, o Miguel e o Chico Veiga (mais conhecido pela alcunha de Remo que era o nome do cão que traz preso na trela).

Alguns já partiram na sua última missão, outros andam meio-desaparecidos e só o Lisboa (Quim Salema) sei onde para, pois me mantenho em contacto com ele através dos modernos meios de comunicação. Os dois da direita são os desaparecidos fisicamente, Deus os levou, e o Elias, no Brasil, o Pencas, em Albergaria e o Tomé, em Loulé, há muito tempo não me fazem chegar notícias. Se alguém ler isto e os conhecer, por favor, deixe aqui um comentário para eu me actualizar.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

O Alves de Monção!

Na imagem que aparece no cabeçalho deste blog, ele aparece destacado, à esquerda, de fato camuflado, enquanto o resto da maralha está com a farda de trabalho. Isso significa que ele estava de guarda, nesse dia, e nada mais que isso.

Não sei se ele se mudou, definitivamente, para a sua terra natal, no Minho, ou continua a andar cá e lá, entre o Lavradio e Monção. Na última vez que falei com ele disse-me que as obras na sua casa estavam quase prontas e depois contava passar ali mais tempo que no Lavradio, onde estabeleceu a sua residência, depois de se reformar da Marinha.

Mas os nossos planos, muitas vezes, são alterados por vontade de terceiros e ele tem família criada naquele sítio, filhos e talvez netos que o não deixem cumprir os seu planos à risca. E depois, há a sua mulher de quem não sei absolutamente nada. Se ela também for minhota pode puxar para este lado, mas se não for pode remar contra a maré e o Alves, camarada, amigo e filho da escola, pode ver os seu planos, completamente gorados.

Tenho tentado entrar em contacto com ele por todos os meios, mas sem sucesso. Ou mudou de número de telemóvel ou deixa-o ficar no descanso, enquanto ele anda por fora. Se alguém passar por aqui e o conheça, deixe um recado. Ele era conhecido pela alcunha de «Zeca Diabo» por causa da sua careca e bigode que o faziam parecer-se com a personagem desempenhada pelo famoso actor brasileiro Lima Duarte numa das telenovelas que passaram na nossa TV, salvo erro, Roque Santeiro.

Os filhos da escola comuns que também moravam no Barreiro, nomeadamente, o Pintado, o Bento, o Ferreiro, o Toucinho, já morreram ou vivem caladinhos no seu canto, sem passarem cartão a ninguém. A idade começa a pesar e as dificuldades da vida ajudam a que as pessoas fiquem "fora de serviço".

Gostaria muito de saber notícias dele!!!

domingo, 28 de janeiro de 2024

O Garcia de Santa Comba!

 



Não conheci o Garcia de Horta (seria natural da Horta, nos Açores?), mas conheci e convivi, durante alguns anos, com o Garcia de Santa Comba de Seia, na Beira Alta. Ele era um rapaz engraçado, com aquele modo de falar à moda das Beiras, em que os "ss" caem mais para o lado dos "xx". Por essa razão, na Marinha, lhes dedicaram a alcunha de "xaitos"! O Garcia era o nosso xaito da CF2 e levava na maior todas as brincadeiras que fazíamos com ele.

Um certo dia, sem nada mais importante para fazer, chamei por ele e perguntei-lhe:

- Garcia, queres que eu te ensine a pronunciar os "ss" correctamente?
- Eu bem gostava, mas não acredito que isso seja possível.
- Porquê? sempre falei assim, a minha família e amigos falam todos assim e eu ia parecia um palerma se chegasse ao pé deles a falar de modo diferente.
- Oh, Garcia, pensa lá uma coisa, a tua família, agora, é a Marinha, em especial os 150 camaradas da Companhia 2 e ninguém fala como tu.
- Ai não fala, e então o Zé Daniel, como fala ele?
 - O Zé Daniel é a excepção que confirma a regra, por isso não conta.
- O que é que isso quer dizer, ele fala tal e qual como eu.
- Isso agora não interessa nada, pensa apenas no teu problema e em como poderemos resolvê-lo.
- Está bem!
- Ok, vou ensinar-te uma frase que tu deves repetir, pelo menos, umas cem vezes por dia, até achares que já consegues dominar a ciência de pronunciar as consoantes sibilinas.
- Sibilinas? O que quer dizer isso?
- Esquece isso, Garcia, e concentra-te no que te vou dizer. A frase que quero que repitas muitas vezes é a seguinte:

A História é uma sucessão de sucessos que se sucedem sucessivamente sem cessar!

- Que quer dizer isso?
- Não te importes com o significado, só tens que repetir até conseguires que a tua língua aprenda o sítio onde deve ficar, quando tiveres que pronunciar um "S".

E o Garcia lá se separou de mim, com os trabalhos de casa para fazer. Quis o destino que algum tempo depois destas peripécias, eu fosse destacado para o norte de Moçambique, deixando o Garcia - com a missão que eu lhe tinha distribuido - na capital moçambicana. Quatro meses depois, regressei à capital e começámos a fazer as malas para regressar a Lisboa. A conversa sobre os "ss" e se ele tinha conseguido corrigir o seu modo de falar ficou esquecida no tempo.

No Ano de 2002 reuniu-se o pessoal da CF2 num convívio, em Sintra. Como é normal, a maioria dos presentes não reconhecia ninguém naquelas caras de velhos e carecas. Então aproximou-se de mim um sujeito baixinho e perguntou, sabes quem eu sou? A cara dele fazía-me lembrar alguém, mas não conseguia saber exactamente quem. E então, ele abriu a boca e disse:

A História é uma sucessão de sucessos que se sucedem sucessivamente sem cessar!

Claro que os "ss" saíram, exactamente, como quarenta há anos, quando estávamos em Moçambique!

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

O último sargento da Companhia!

 


Resistiu até onde pôde, mas assim como foi o último ano já não valia a pena. Passou mais tempo no hospital - e no bloco operatório - que noutro lugar qualquer. Infecções sucessivas no trato urinário fizeram-no sofrer muito e a morte acaba por ser uma libertação. O corpo aguenta muito, mas o fim é sempre o mesmo, as maleitas derrotam o humano e este acaba debaixo de terra. Do pó vieste e ao pó hás-de tornar, é esse o destino que temos traçado em letras de fogo no Livro da Vida.

No meu blog principal -  https://nma-16429.blogspot.com/ - deixarei uma crónica mais alargada, aqui fica apenas a notícia para qualquer "raro" visitante que por aqui possa passar.

Descansa em paz, companheiro de muitas lutas, Albertino Veloso !!!

sábado, 3 de junho de 2023

Cada tiro cada melro!

 


Hoje realizou-se, em Loures, o funeral de mais um filho da minha escola e membro da CF2. Está acontecer tal e qual como acontece com as nozes, a casca escurece, começa a ficar enrugada, depois abre-se e deixa cair a noz no chão. O Braulio já tinha 83 anos, ou estava quase a fazê-los, portanto digamos que chegou a sua hora, foi na vez dele e de mais ninguém.

Nos primeiros meses de Marinha quase não nos cruzámos, pois a instrução era dada por pelotões e nós não pertencíamos ao mesmo. Mas depois de chegarmos a Moçambique tornámo-nos mais próximos. Quase todos os alentejanos e algarvios ficaram na caserna Nº 1 e eu na Nº 2, no entanto o Braulio, também ele algarvio, juntou-se a mim na Nº 2 e fomos camaradas de dormitório cerca de dois anos. Quase no fim da comissão eu fui destacado para o Niassa e ele ficou para trás, mas quando regressei, para prepararmos a partida para Lisboa, voltei a ocupar a minha antiga tarimba e a ser vizinho do Braulio.

O serviço de guarda que fazíamos a cada 3 dias, revezando-nos no posto de sentinela durante 24 horas, fez criar laços indestrutíveis entre camaradas. O Braulio não pertencia ao meu pelotão e no início da comissão não fazia serviços comigo, mas, a páginas tantas, para substituir algum "lesionado", veio para a minha secção e passámos a partilhar horas e horas de companhia um do outro. Ele ganhou a alcunha de «Rei do Sono», porque quando se punha a dormir não havia quem o acordasse, se o deixassem dormia 24 horas seguidas, mas nos serviços de guarda era o mais fiável de todos os camaradas, enquanto estava no posto nunca pregava olho.

E depois, havia ainda outra coisa que nunca esqueci, ele recebia, de vez em quando, encomendas enviadas pela família, onde não faltavam os figos e aguardente dos ditos, entre outras coisas mais apetitosas. Pois um Braulio nunca abria a encomenda sem me convidar para comer dois ou três figos e beber um trago daquela aguardente que tem um sabor indescritível.

O Braulio era um camaradão e um bom homem, nunca encontrei ninguém que afirmasse o contrário. Agora, recebeu a Guia de Marcha para se apresentar lá em cima, como acontecerá a cada um de nós, e só me resta desejar que descanse em paz e se houver outra vida para além da morte que a disfrute o melhor possível. A vida passa num piscar de olhos e dentro em breve lá estaremos todos juntos de novo!



sábado, 6 de maio de 2023

O Fragata!

 


Havia 3 "fragatas" na minha recruta, tal como havia também 2 "casapianos", rapazes que vinham de instituições que, ao chegar aos 18 anos os empurravam pela porta fora para dar lugar a outros. A Marinha era um destino natural para os fragatas que tinham passado a vida internados na fragata D. Fernando e Glória, fundeada no Mar da Palha, perto da Base Naval.

Os 3 camaradas que vieram fazer a recruta comigo, na Escola de Fuzileiros, foram baptizados com os nomes de Fragata (16273), Fragatinha (16451) e Fragatão (16452). Os nomes, melhor, as alcunhas, tinham a ver com a idade e o físico de cada um, além de o Fragata ter chegado 3 ou 4 dias mais cedo e agarrado logo a sua com as duas mãos. E dos 2 que chegaram a seguir, o Fragatinha era magrinho como uma espinha de carapau, enquanto que o Fragatão tinha um corpo bem musculado.

Passámos os primeiros 6 meses de Marinha juntos e seguimos depois para Moçambique incorporados na Companhia de Fuzileiros Nº 2. A meio da comissão o Fragata foi recambiado para a Metrópole por mau comportamento. Os dois restantes continuaram sempre juntos comigo, fomos para o norte de Moçambique, logo que estourou o terrorismo (como lhe chamávamos), andámos aos tiros contra a Frelimo e regressámos, ao fim de 30 meses, à Escola de Fuzileiros para frequentar o Curso de 1º Grau.

Acabado este, o Fragatinha e eu regressámos a Moçambique, ele porque estava embeiçado por uma moçambicana e eu porque ele me convenceu a acompanhá-lo para não ir sozinho. O Fragatão seguiu para a Guiné, uns meses mais tarde. Aí perdemos a companhia de um dos 3 fragatas, o outro tinha partido para o Canadá como pescador de bacalhau, assim fiquei só com um deles e não por muito tempo.

Terminada a comissão, o Valter decidiu passar à vida civil e ficar em Moçambique (ainda e sempre por causa da mesma catraia moçambicana) e bem me tentou convencer a ficar também, mas aí eu fui irredutível. Não é que eu não gostasse de Moçambique, mas não via que futuro me esperava ali. Acho que acertei na escolha, escapei de voltar como "retornado".

A partir daí cada Fragata seguiu o seu destino sem nunca de voltarem a cruzar, até que eu, depois de muitos esforços nesse sentido, os ter conseguido juntar de novo, em Montemor-o-Novo, no convívio do ano 2010. O Fragata veio do Canadá, onde se casara e ficara a residir, o Fragatinha veio de Sines, onde ficara a morar, após o seu regresso como retornado e o Fragatão veio de Albufeira, a sua terra natal, onde vivia reformado como oficial da Marinha.

Foi um reencontro animado, em que cada um despejou o saco das suas recordações e matou as saudades de muitos anos separados. O Valter continuei a vê-lo a cada convívio que eu próprio organizava, pois queria manter vivo o vínculo que criara com muitos amigos. O Domingos (era este o seu nome próprio) regressou ao Canadá com muitas promessas de voltar e participar nos convívios, promessas que nunca foram cumpridas e não sei se ainda é vivo ou já partiu para o Além. O Floriano também se ficou por Albufeira disfrutando da sua reforma de oficial da Marinha e não mais se apresentou aos convívios que eu, teimosamente, continuava a organizar a cada ano.

O Valter começou a ter problemas de saúde e acabou vitimado por um cancro do cólon, depois de vários anos a sofrer dessa doença sem se tratar convenientemente. Dizia ele que preferia ser escravo da doença que dos médicos que lhe iriam infernizar a vida para o manter na lista dos vivos.

Ontem, sucumbiu o Floriano, deixando-me aqui sozinho a pensar na vida, e na morte, e a agradecer a Deus por me ir deixando gozar a vida por mais algum tempo. Descansa em paz, Floriano, e faz boa companhia ao Valter até eu me voltar a reunir convosco!

sábado, 22 de abril de 2023

Passei por aqui!

 Só para actualizar a coisa!



Esta semana andei a tentar contactar o Elias (16454), mas sem sucesso. Ele usava o Hotmail e tivemos alguns contactos no passado, mas parece que não o usa mais. Há muita gente da nossa idade que já não tem a mínima paciência para estas coisas tecnico-modernas, querem é que as dexem em paz e sossego. Talvez seja o caso dele. De qualquer modo deixei lá o recado, pode ser que um dia lhe dê para ir lá espreitar.

Isto no caso de ser ainda vivo, pois pode dar-se o caso de já ter viajado para a outra dimensão, onde não há e.mail nem outro meio de comunicação. Com a crise de Covid-19 descontrolada que andou pelo Brasil (culpa do Bolsonaro que dizia que aquilo era uma gripezinha merreca) nunca se sabe!

sábado, 1 de abril de 2023

Notícia atrasada!

 

NMA - 16881
Na minha última publicação falei de vários camaradas que andam um pouco esquecidos e não me lembrei do Damásio, este alentejano dos olhos redondinhos que seguiu a carreira da Marinha, mas estacionou no posto de Cabo. Quase todos os filhos da nossa escola foram ao curso de sargentos e outros chegaram até a oficiais, mas ele não, arranjou um trabalhinho na Repartição que lhe agradava e por lá se deixou ficar até à reforma. Nunca se casou, vivia com uma irmã e a vida ia correndo da maneira mais sossegada que se possa imaginar.

Mas tudo tem um fim, a começar pela nossa vida que acaba sempre, sem apelo nem agravo, na morte que chega sempre de surpresa e nos leva com ela. Como não tinha notícias dele, há já bastante tempo, telefonei a outro camarada que mora na mesma zona e ouvi o que não queria. O Damâsio já faleceu em Maio do ano passado.

E não me resta outra alternativa senão riscá-lo da minha lista, uma vez que o S. Pedro o acrescentou na dele. Já está lá em cima esperando que toda a nossa Companhia se apresente na formatura, o que não demorará muito, a fila cada vez anda mais depressa. Que Deus lhe tenha reservado um bom lugar que ele não era mau rapaz. Que descanse em paz !  

sexta-feira, 31 de março de 2023

Este mês de março!

 


Levou 3 fuzileiros das minhas relações. Cada um que parte leva um pouco de nós que ficamos por cá mais uns tempos!

Isto fez-me lembrar que, há muito tempo, não tenho notícias de alguns que andam por fora do país ou ainda outros que são pouco dados a contactos constantes.

Havia dois Raimundos na Companhia 2, um de nome, Júlio Raimundo, o outro que dizia ser o nome ou alcunha do seu pai, mas que não constava do seu cartão de identidade. Há dias telefonei a cada um deles para saber da sua saúde e atenderam-me com alegria, um mais alegre que o outro, pois andava cheio de medo com problemas na próstata e disse-me que está curado, como por milagre, o outro mais triste porque sofre de um glaucoma que o tem quase cego.

Mas tenho mais de quem não sei nada, o Padre que ficou na Alemanha. o Elias no Brasil, o Fragata, no Canadá, o Tarrinha que passa a vida entre Sintra e os Estados Unidos, o Rodrigues que mora lá para os lados da Barragem do Castelo do Bode e o Manel perto das Portas de Ródão. E há mais que começam a viver em lares para idosos e para quem a vida já não tem grande valor. Eles bem podiam ligar-me a dar notícias, mas se não sentem essa necessidade ... quem sou eu para os obrigar.

Havia um alentejano meu amigo que dizia: - a gente leva os burros à fonte, mas eles é que decidem se bebem ou não!

quinta-feira, 23 de março de 2023

Era uma vez ...!

 

NMA - 8474.62

... um fuzileiro que hoje já não é mais, morreu!

Alentejano de nascença foi, com todos os seus conterrâneos, dormir para a caserna Nº 1, no Aquartelamento da Machava, quando a Companhia de Fuzileiros Nº 2 chegou a Moçambique. Acredito que não foi por acaso, eles apegam-se uns aos outros estejam onde estiverem.

Pois é e por aquilo que me lembro o Serafim era uma animação naquela caserna. Dava pela alcunha de Galguista por ter sido treinador de galgos, antes de ingressar na Briosa e só havia outro que rivalizava com ele na animação noturna, era o Mateus que dava pela alcunha de Custoidinha (nome mimado que dava à sua namorada que deixara na terra) que era algarvio e não deixava os seus créditos por mãos alheias. Eles os dois punham aquela caserna em polvorosa e justificavam as visitas frequentes do Cabo de Quarto para manter a ordem.

Tanto quanto sei, abandonou a Marinha pouco depois de termos regressado de Moçambique, na Primavera de 1965. E o seu principal emprego, senão o único, na vida civil foi como empregado da empresa de construção e reparação naval, a Lisnave. Se for verdade tudo aquilo que me contaram a este respeito, ele foi um dos mais bem sucedidos Filhos da Escola com quem convivi. Ele aprendeu bem o seu ofício e acabou numa posição cimeira, comandando e ajudando a entrar na empresa muitos fuzileiros regressados da guerra em África e necessitados de um emprego.

Depois de reformado, vivia na margem sul, Cruz de Pau, Feijó ou algo semelhante. Um café e um bagaço ou um copinho de tinto era tudo o que precisava para se sentir feliz. Só uma vez participou nos nossos convívios anuais, quando o organizei em Montemor-o-Novo. Depois de sairmos do paquete Infante D. Henrique, em Alcântara, foi a primeira e única vez que o encontrei, agora é impossível, pois repousa no cemitério da zona em que morava.

Foi um bom camarada e resta-me pedir a Deus que lhe reserve um bom lugar, lá no céu, em paga do bem que ele fez cá na Terra. Paz à sua alma !!!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Dois duma vez!

 

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Muitos dias sem publicar nada e hoje foram logo duas publicações. Uma para recordar o Rodrigues que não sei se é vivo ou morto e a outra para dar parte dos falecidos da Revista da Armada de Dezembro 2022.

O mais velho da nossa Companhia que resistiu a tudo e mais alguma coisa, nem a Covid-19 o vergou, recebeu, finalmente, a Guia de Marcha para a última viagem, 199548 - Sargento M - Joaquim Gomes. Deixou agora no primeiro lugar da fila o Sargento Monitor Albertino Veloso que vai carpindo as suas mágoas e falta de saúde no CAS  - Runa. Faço aqui uma ressalva, pois não tenho notícias do 2º Comandante Ilharco de Moura, mas diria que ele é mais novo que o Veloso.

O segundo comtemplado com uma Guia de Marcha para destacamento imediato foi o 472757 - Sargento Ajudante Artilheiro - Manuel António Lúcio que, tanto quanto me é dado saber, vivia em casa de um filho, na Quinta do Conde.

A título de curiosidade, atentem nos Números de Matrícula da Armada e as idades que a cada um correspondem. Joaquim Gomes 1995 = 94 anos; Albertino Veloso 3143 = 90 anos; M.A.Lúcio 4727 = 85 anos. O meu número é o 8079, espero que a malmvada demore ainda muitos anos até me fazer a indesejada visita.


Que descansem em paz é tudo o que me resta para dizer, nesta altura!

O Langonha!

 


Passando em revista a rapaziada da CF2, lembrei-me que nunca mais tive notícias do Rodrigues (16540) que mora para os lados de Sintra. Na primeira e única vez que o apanhei ao telefone, para o convidar para o nosso convívio, foi categórico a dizer-me que não queria saber disso para nada e que era a sua filha que geria a sua vida. Ainda tentei que me dissesse o porquê dessa dependência, mas a sua reacção foi desligar a chamada. Claro que nunca mais pensei em ligar-lhe, gente assim não merece! 

Será que ainda é vivo? Ele tinha tão pouca energia naquele corpo que será um milagre se ainda andar por aí. Foi essa falta de energia que lhe valeu a alcunha de «Langonha» com que o Verde o brindou. Nada mais apropriado (diria eu)!

sábado, 10 de dezembro de 2022

A fila continua a andar!

 A realização da Festa de Natal da Associação de Fuzileiros serviu para eu tomar conhecimento da morte de um camarada que me era muito chegado. Costumávamos trocar um telefonema duas ou três vezes por ano e, como ele tinha as suas raízes em Baião, planeávamos encontrar-nos cada vez que ele viesse ao norte. Uma dessas visitas estava planeada para acontecer no fim do verão passado, mas não aconteceu e só agora descobri a razão, ele faleceu em 5 de Agosto passado. 


O Barbosa era de uma escola anterior à minha - Setembro de 1961 - mas por razões de saúde não pôde jurar bandeira com os seus camaradas de recrutamento e foi obrigado a repetir a recruta, o que o fez encontrar-se comigo na Escola de Fuzileiros, no mês de Março de 1962. E daí em diante andámos sempre juntos até ao dia em que eu regressei a Lisboa no fim da comissão da CF8, em Fevereiro de 1968.

Fomos juntos para Moçambique na CF2 e por lá passámos uns felizes 30 meses. Regressámos a Lisboa, a bordo do paquete Infante D. Henrique com paragens em vários portos pelo caminho. No último deles, Funchal da Madeira, fomos a terra juntos e nesse dia o Barbosa conheceu uma menina com quem viria a casar por procuração. Pouco interesse tem para a minha narrativa, mas esse casamento acabou mal e foi anulado com autorização do Papa por nunca ter sido consumado.

Em Vale de Zebro, fizemos juntos o Curso de 1º Grau no fim do qual nos voluntariámos para a CF8 que estava a ser preparada para seguir para Moçambique de onde tínhamos saído, há seis meses apenas. E fizemos mais 28 meses de comissão juntos, parte em Lourenço Marques e parte em Metangula, no Niassa, já com a guerra de libertação em pleno andamento. Fizemos algumas operações no mato, felizmente sem qualquer tipo de problema.

Passámos bons momentos na companhia de outros camaradas que também já faleceram - como o Valter, o Silveira ou o Paulino. Regressámos à capital de Moçambique por volta do Natal de 1967 e dois meses depois a Lisboa. O Barbosa e o Valter andavam embeiçados por duas moçambicanas e preferiram passar a vida civil e lá ficar com elas. Nenhum desses casamentos teve grande futuro e depois da independência ambos regressaram à Metrópole "solteiros".

Depois fomo-nos encontrando regularmente, nos convívios anuais, enquanto houve pernas para o fazer. E depois disso fomos usando o telefone para dar notícias um ao outro e falar dos amigos comuns ou lamentar a perda de algum deles, cada vez que um recebia a guia de marcha para a outra dimensão. O Valter era de Sines e para lá levou o Barbosa, quando regressaram de Moçambique. O Valter tinha falecido, há cerca de dois anos, e agora foi o Barbosa juntar-se a ele e ao Paulino para juntos ficarem à nossa espera, pois mais dia menos dia todos seguiremos o mesmo caminho.