domingo, 5 de junho de 2016

A matança!

No último trimestre do ano de 1964, havia cerca de 50 pessoas na Base Naval de Metangula. O comandante e a sua família, mais a criada e o marido (o tão falado Neves), a equipa de comunicações, a tripulação da Castor, o Cabo do Mar e o seu adjunto, o fogueiro, o cozinheiro e, para terminar, um pelotão de fuzileiros. Espero não ter esquecido ninguém, mas não garanto que a memória não é de elástico.
O cozinheiro era um negro cabeçudo a quem tínhamos posto a alcunha de «cabeça de morteiro». Tinha uma mão para o tempero que não vos digo nada. Na inauguração do nosso forno que era operado pelo Salvador e pelo Enteiriço (recentemente falecido), assou um cabrito inteiro que foi a coisa mais gostosa que comi na minha vida.
Um certo dia, na formatura de serviços, fui destacado para a cozinha. A ementa do almoço era frango assado no forno. O cozinheiro entregou-me um daqueles cutelos usados na cozinha e apontou para uma grade de madeira, em que cacarejavam cerca de 20 frangos. Tinha sido eu o escolhido para cortar o pescoço àquela frangalhada toda. Sem problema, disse eu, e usando um cepo de madeira que existia fora da porta da cozinha, fui-me a eles e em três tempos estava tudo sem cabeça. Do portão de entrada até ao ring de patinagem, havia frangos por todo o lado, aos saltos e sem cabeça.


Depois veio a parte mais chata. Era preciso depenar os vinte pitos que o cozinheiro tinha que temperar e meter no forno. A rapaziada que vêem na imagem foi quem se encarregou da tarefa e eu, como não apareço na imagem, devo ter sido escolhido para descascar as batatas. Alguém tinha que o fazer e melhor isso que depenar frangos.
Lá atrás, o Cabo do Mar, aprecia o trabalho dos fuzileiros. Em primeiro plano, reconheço o Albertino, o Lousa, o Rafael e o Paixão. Os outros não consigo identificar.
Cada fotografia conta uma história e aqui fica a história desta que aqui vos deixo, com uma palavra de agradecimento ao Paulo Cerdeiral (filho do Albertino) que fez o favor de ma dispensar.

2 comentários:

  1. Pior do que leão,
    era um dó d'alma,
    homem sem coração
    como se matava
    na tropa a criação.

    Muito sofriam,
    os animais, até morrer
    enquanto os vivos sorriam
    de contentes para os comer!

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  2. Estou voltando aqui,
    com esta e outra quadra
    porque,tanta água lá vi
    toda doce nenhuma salgada!

    Nela mergulhei,
    e voltei sempre à tona
    o que nunca lá encontrei
    foi uma verde azeitona!

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