Ontem, recebi uma notícia inesperada, vinda de Moçambique. O nosso camarada de comissão na CF2 que recebeu o número de matrícula na Armada 16358, em Março de 1962, de seu nome Joaquim Manuel Cavaleiro Rodrigues Cação, conhecido pela alcunha de "Almeirim", recebeu a Guia de Marcha para se apresentar na Unidade comandada por S. Pedro e a essa ordem ninguém pode desobedecer. Nem tempo há para meter os nossos pertences pessoais no saco/mochila, é apenas responder "pronto", dar um passo em frente e "ordinário marche"!
Rapaz bem disposto, como convém a um ribatejano, ele trazia sempre um sorriso afivelado no rosto. Não convivi muito com ele, pois estávamos colocados em pelotões diferentes e, mais tarde, ele foi fazer o Curso de cães de guerra, em Boane, e pouco depois fui eu destacado para o Niassa. No fim da comissão, eu embarquei no Infante para regressar a Lisboa e ele ficou por lá, até ter ensinado os seus saberes aos rapazes da CF6 e passar-lhe a responsabilidade pelos fuzos caninos que passaram a integrar a Companhia.
Uns meses depois, suponho que antes do Natal desse longínquo ano de 1965, ele regressou a Lisboa e pelo que consegui saber, por informações de terceiros, ele abandonou a Marinha, casou-se e voltou para Moçambique. Não sei se foi o seu primeiro emprego, mas sei que começou a trabalhar para os serviços de água da Câmara de Lourenço Marques. Na altura da independência, ele regressou a Portugal com a mulher e família (duas filhas).
Mas não se deu bem por cá e quis voltar para Lourenço Marques, cidade já denominada como Maputo. A mulher não o quis acompanhar e divorciou-se dela. Conseguiu reaver o seu antigo emprego, nos serviços municipalizados e aprendeu a dizer amén a tudo que a Frelimo queria ou dizia. Era uma questão de sobrevivência, ou aceitar essa situação ou teria que regressar a Penates.
Acabou por constituir uma nova família e ficou a viver na Matola. Se me não engano teve dois filhos dessa ligação, um rapaz e uma rapariga. Um dia, por mero acaso, encontrei a filha no Facebook, uma amiga dela e vizinha pôs-nos em contacto e assim nos mantivemos até hoje. Por falar nisso, há muito que não tenho notícias dessa amiga, acho que se casou e foi morar para o norte.
O nosso amigo comum, Mário Lima (16480), também foi procurar a sua sorte, em Lourenço Marques, e chegou a partilhar com ele um quarto, onde moraram por algum tempo. Depois, cada um seguiu o seu destino, veio a independência e o Mário nunca mais pensou em Moçambique. Ontem, publiquei, no Facebook, a notícia do falecimento do nosso camarada e sei que ele já leu a notícia. Não conheço mais ninguém a quem deva passar esta informação e por aqui me fico.
Quando perguntei à sua filha a causa da morte, ela limitou-se a dizer-me que ele andava, há tempos, com problemas de hipertensão e, de repente, apagou-se, não sofreu muito, disse-me ela. Talvez não tenha sido medicado como deve ser ou não tenha cumprido as indicações médicas, coisa que não me causaria espanto tratando-se de um país africano.
Hei-de tentar descobrir se um irmão que ele tinha e morava nas Fazendas de Almeirim é ainda vivo ou já morreu. O Mário (Santarém) será a pessoa indicada para me descobrir isso. E resta-me apenas dizer, a respeito do amigo e camarada Almeirim, que a terra lhe seja leve e Deus lhe tenha reservado um bom lugar!
DEP
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