sábado, 21 de dezembro de 2024

Menos um - actualização!

 


Ontem, passei por Barcelos e pareceu-me mal não ir à procura de notícias do 21, era assim que os filhos da sua escola o tratavam (18221). Sem surpresa, fiquei a saber que tinha já falecido, em 2014. Não fazia ideia que já tinha passado tanto tempo desde que estivera com ele e a sua nova mulher mo hospital de Barcelos.

Na altura ia acompanhado pelo Zé Correia e pelo Salvador Barbosa, eles é que eram, realmente, os amigos dele, eu apenas servi de taxista. Em Moçambique, nunca me lembro de nos termos cruzado em serviço. Enquanto que o Artur  (Twist) e o Vitorino fizeram muitos serviços comigo, ele não, devia pertencer a outro pelotão.

Quando o meu pelotão foi para Metangula, em Setembro de 64, ele ficou para trás e depois do nosso regresso a Lourenço Marques, já a comissão estava no fim e foi tempo de fazer as malas e apanhar o Infante D. Henrique.

Depois da Marinha, na sua vida civil, ele foi emigrante no Luxemburgo e só regressou a Barcelos depois de enviuvar e ter sofrido um, ou vários, AVC que o deixou em muito mau estado. Só conseguia caminhar arrimado a um pau, com a bengala não conseguia equilibrar-se, e mal conseguia falar. A mulher com quem se casou tinha a doença dos pezinhos e deu-lhe 3 filhos todos com o mesmo mal.

Após ter ficado viúvo, teve a sorte de arranjar uma nova mulher que o ajudou a suportar a sua invalidez e lhe facilitou a vida, enquanto por cá andou. A sua filha, a mais velha dos 3, já faleceu também. Dos dois filhos, o mais novo foi o primeiro a ser transplantado e leva uma vida, digamos, normal. O mais velho também foi transplantado, mas, talvez porque a doença já tinha alcançado um estado muito avançado, não tem a mesma qualidade de vida do seu irmão.

E é assim a vida, a nossa Companhia está quase a alcançar um número de baixas igual ao dos que continuam por cá. E há uma meia dúzia deles que desapareceram do meu radar e não posso garantir que estejam ainda vivos. Para quem cá estiver desejo um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo, aos outros que descansem em paz e Deus os não abandone!


quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

O Ruço!

 No início de 1964, foram chamados à Metrópole todos os cabos da CF2 que estavam em condições de concorrer a sargentos. A maioria, senão todos, eram fuzos concorrentes que tinham vindo de outras especialidades para mais rapidamente ascenderem na carreira militar. Nos seus antigos quadros talvez nem cabos fossem ainda, nos fuzileiros seriam sargentos todos os que terminassem o curso com aproveitamento.

Uma tal razia no pessoal fez com que o Comando Naval pedisse a Lisboa que enviasse substitutos para tomarem o lugar dos que regressaram para frequentar o curso. Como Cabos era coisa que não existia, foram enviados 9 2º Grumetes para ocupar o lugar. Os recém-promovidos a Marinheiros (todos filhos da escola de Setembro de 61) ocupariam o lugar dos Cabos até que a Companhia completasse a comissão, o que estava previsto para antes do Natal desse ano.

Os dois primeiros nomes da lista acima não faziam parte desse lote, tinham já vindo anteriormente para render dois "maus" elementos que regressaram à Metrópole para cumprir penas de prisão. Um deles, por ser voluntário, seria expulso da Marinha após cumprimento da pena. O outro, conotado com o Partido Comunista, andou por lá a amargar os seu dias, até levar baixa.

Mas, voltando aos 9 grumetes que foi o que me trouxe aqui, recebi notícias que o último da lista, Zé Correia, mais conhecido pela alcunha de Ruço, tinha falecido. Ele não morava muito longe de mim e, de vez em quando eu passava por casa dele para saber notícias. Da última vez que lá passei, encontrei a casa fechada, o que me pareceu esquisito, e dirigi-me a uma vizinha para pedir notícias. Talvez ele ou a mulher tivessem falecido e o sobrevivente fosse viver com um dos filhos (eu sabia que ele tinha dois).

Infelizmente não era o caso, a vizinha lá me foi contando o que são as tristezas desta vida, quando a gente chega a velho e não vende saúde. Um deles morrera primeiro e o outro, doente e sozinho, depressa lhe seguiu o destino. Numa questão de poucos meses, ambos morreram e a casa ficou vazia. Se não estou em erro, ele era de 1942, portanto não muito velho ainda, mas isso não quer dizer nada, a malvada quando aparece não aceita recusas.

Como se pode ver pela cor com que pintei os seus nomes, dos 9 há já 4 falecidos. Dos 5 restantes só tenho notícias do Artur Teixeira que vive na Suíça. Dos outros, havia dois que eram doentes crónicos, o Eduardo Cardoso, diabético há muitos anos, e o António Barbosa incapacitado com uma série de AVC's que o deixaram totalmente dependente de terceiros.

Os outros dois, de quem perdi o rasto e não tenho notícias, há muitos anos, um morava nos Estados Unidos, zona de Newark, e o outro em Odivelas. Não estando eles muito interessados em dar notícias, quem sou eu para obrigá-los?

E assim ficou a CF2 mais pobre com um novo elemento destacado para «as hostes celestiais»!