Hoje deu-me para andar para trás no tempo. Tal como agora também nessa altura, os governantes gostavam de andar a passear à conta do Zé, comer e beber do bom e do melhor e mandar a conta para o Palácio de Belém, onde nunca faltou, não falta, nem faltará o bendito pilim para pagar tudo o que Suas Excelências tiverem o bom gosto de encomendar. Estávamos em 1963 e andava o nosso Presidente da República de visita a Moçambique.
No convívio deste ano tivemos a companhia do Sargento Vitorino (agora é reformado como 1º Tenente) que já conta 86 anos de vida e que a título de conversa me pediu o contacto do Cabo Milheiro e me perguntou se eu me lembrava desta cerimónia em que eles os dois e mais o Tenente Miranda foram ao cais, de bandeira em punho, receber o Alm. Américo Tomás.
- Então não havia de lembrar-me, respondi-lhe eu, tenho a fotografia e tudo para provar o que estou a dizer!
E aqui a deixo para avivar a memória daqueles que lá estiveram comigo e se tinham já esquecido disso. Especialmente aqueles que de G3 ao ombro aguentaram horas debaixo de um sol de estorricar miolos e por fim desfilaram na Avenida da República e ao som de um «olhar à direita», gritado pelo comandante do seu pelotão, fixaram os olhos naquele que 11 anos depois teve que fugir para o Brasil para não prestar contas daquilo que fez desde que ganhou as eleições ao Gen. Humberto Delgado, em 1958.